Cultura e Estilo, Gestão empresarial, Informação, Opinião, Risco Empresarial

Estamos 30 anos atrasados, será mesmo?

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Há quem diga que estamos com 30 anos de atraso em relação aos Estados Unidos. Várias vezes, já lemos e assistimos matérias jornalísticas a esse respeito. Inclusive, baseados em uma dessas reportagens, pudemos falar das reais oportunidades que o Brasil apresenta para os investidores, sejam eles locais ou mesmo internacionais.

O atraso em si tem uma conotação ruim, mas denota uma real oportunidade para os brasileiros que querem empreender, na forma mais legítima da palavra. Recentemente, tivemos um grande exemplo de empreendimento, como chamado no livro, “Na Raça”, do Guilherme Benchimol, com a XP! Destacar um ponto de vista, da oportunidade real e subjacente que existe no mercado, a todo tempo, se torna difícil sem um exemplo concreto.

A XP e seu fundador são exemplos latentes no momento e, certamente, há muitos outros que cada um de nós vê no seu dia a dia, ao seu redor. E aqui vemos um ponto diferencial, pois se estamos 30 anos atrasados em relação aos Estados Unidos, isso para o fundador da XP foi exatamente, uma oportunidade. De forma sucinta o livro comenta que Benchimol e seus sócios foram à feira do banco americano Charles Schwab e copiaram o modelo. A partir dali, tentaram convencer as pessoas a deixar os grandes bancos, algo inconcebível até aquele momento no Brasil.

Talvez não com essa consciência e raciocínio, mas com se diz na capa do livro, “Na Raça” e, portanto, sem constrangimento e vendo o atraso Brasileiro, o fundador da XP copiou um modelo americano e transformou a realidade brasileira: … não sabendo que era impossível, foi lá e fez!

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Essa investida da XP nesse mercado é o típico exemplo do Oceano Azul,  um conceito de negócios, apresentado em um livro de mesmo nome, que diz que a melhor forma de superar a concorrência é parar de tentar superá-la. Ou seja, buscar mercados ainda não explorados, chamados pelos autores do conceito de “oceano azul”. Na metáfora marítima, o oceano azul é um local em que se pode nadar livremente enquanto os mercados já saturados são o “oceano vermelho” em decorrência do sangue derramado nas batalhas entre os concorrentes. Inclusive essa proposta traz os seis princípios do oceano azul que são:

1 – Reconstruir barreiras no mercado

2 – Concentrar-se no panorama geral

3 – Ir além da demanda existente

4 – Formular a estratégia na sequência adequada

5 – Superar os obstáculos organizacionais

6 – Orientar a execução estratégica

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“É um conceito que foca na inovação do modelo de negócio e sua principal ferramenta é a curva de valor. É um tanto idealizador e segui-lo à risca pode ser frustrante, porque a maioria das empresas não consegue encontrar um oceano azul – isso é uma exceção – mas a essência do conceito ajuda as empresas a se repensarem, a tentarem inovar na sua curva de valor e isso é muito positivo”, diz Marcelo Pereira Binder, professor da FGV-EAESP. Foi o que aconteceu com o início da XP, que passou a atender um público que ninguém atendia [ou fingia que atendia], de uma forma que ninguém fazia.

A comparação com o modelo de Charles Schwab já está em vários meios de comunicação americanos, e toda essa onda de admiração gerando uma vantagem competitiva tende a aumentar e transpor fronteiras.

E quantas outras oportunidades existem de natureza semelhante no Brasil? Quantos outros oceanos azuis existem?

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em maio de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A excelência em primeiro lugar

mi_f6c655c6-5d72-4a23-8c3d-5597da3b325e_largeEstamos [continuamos] vivendo uma época de extremos. De um lado, a população ataca as instituições por seus desmandos ao longo dos anos, no Brasil e no mundo. Do outro, os novos eleitos nos últimos anos são atacados pela mídia e por seus atos.

Não estamos isolados no Brasil nesses acontecimentos, pois em todo o mundo isso tem se tornado uma constante. Basta citarmos como exemplo os atos dos chamados “coletes amarelos”, na França. Um país entre os mais ricos do mundo, visto e admirado pela cultura e beleza, e ainda por sua atitude muitas vezes antiamericana, também se viu envolvido nesses debates e manifestações das naturezas mais diversas. E se não bastasse, o principal executivo de uma de suas empresas sendo acusado no Japão por atos [impróprios] de gestão.

E o que permanece em meio a tantos conflitos de opiniões e ações, é a nossa admiração por certas empresas, pela excelência delas em meio a tantos desafios, de atender e manter os clientes de forma exemplar e admirável. E vale lembrar aqui a máxima de Steve Blank, da razão de uma empresa falhar [não prosperar, quebrar]. A maioria das empresas [startups ou não] falha não por falta de tecnologia, mas por não encontrar o encaixe certo de produto e mercado. Consequentemente, não se encontrou clientes suficientes para pagar por seus produtos para que [a empresa] se pudesse permanecer no negócio.

empresas-feitas-para-vencer-jim-collins-D_NQ_NP_763199-MLB31423657947_072019-FEntretanto, permanecer em atividade, nos negócios, para uma empresa, não significa sua excelência, mas somente sua sobrevivência. No livro “Feitas para Vencer” de Jim Collins ele conclui que ironicamente o livro cronologicamente escrito após o 1º livro “Feitas para Durar”, conceitualmente deveria precedê-lo. Em sua conclusão, seria interessante [1º] aplicar as descobertas de “Feitas para Vencer” para chegar a resultados excepcionais e duradouros, e então depois aplicar as descobertas de “Feitas para Durar” e partir dos resultados extraordinários chegar à construção de uma empresa excelente e duradoura.

Desta forma, para fazer a transição de condição de empresa [conforme o conceito fundamental de Feitas para Vencer] com resultados excepcionais e duradouros para a de empresa excelente e sólida [duradoura] com status de ícone, deve-se aplicar então o conceito fundamental de Feitas para Durar. Para compreender esse ciclo o livro nos apresenta um fluxo reproduzido a seguir:

Fluxo

O livro Feitas para Vencer foi publicado em 2001 e, anteriormente, o livro Feitas para Durar foi publicado em 1995, conjuntamente há quase duas décadas. Muito mudou desde então, as empresas ícone em excelência atualmente são outras, mas os princípios para se alcançar resultados excelentes e duradouros e para transformar essas empresas em excelentes e duradouras não mudaram.

A admiração nossa às empresas ícone está sempre respaldada nos mesmos conceitos duradouros de ter pessoas excelentes e de ter produtos ou serviços produzidos e prestados com excelência tendo sempre o cliente em 1º lugar.feitas-para-durar-james-ccollins-D_NQ_NP_619552-MLB28247121504_092018-F

Como o próprio Jim Collins sintetiza a ideologia central, a dimensão da excelência duradoura nas seguintes palavras:

Empresas excelentes e duradouras não existem meramente para gerar retorno para os acionistas. Na verdade, em uma empresa que realmente prime pela excelência, os lucros e o fluxo de caixa se tornam como o sangue e a água para um corpo saudável: são absolutamente indispensáveis à vida, mas não são a verdadeira razão da vida.

Após tantos anos, observamos que algumas das empresas estudadas se perderam no caminho nessas duas décadas, provavelmente porque perderam os princípios e ou deixaram aqueles princípios de lado e agora enfrentam grandes dificuldades. Enquanto isso, outras se tornaram ícones dos dias atuais e visivelmente já têm tido no seu bojo esses princípios de excelência desde o início.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em julho de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Pela transparência e, acima de tudo, pelo controle das contas públicas

Temos visto uma avalanche de novas informações a todo o tempo sobre as contas públicas, muitas delas nos surpreende pois não conhecíamos e nem sabíamos como ter acesso. Temos até uma nova expressão para tudo que não sabemos sobre as contas públicas: “vamos abrir a caixa preta “, em alusão a famosa caixa preta dos aviões que grava toda informação de voo e, para matar a curiosidade de todos, não é preta!2020-03-29 (5)

Temos notado também que há uma grande variedade de empresas, ou melhor, entidades que permanecem nesse intervalo entre puramente pública e puramente privada; são entidades em muitos casos de natureza jurídica privada, mas de caráter público, pois gerem, fazem a gestão de bem público. E aqui de início pensamos apenas em dinheiro, derivado dos impostos que pagamos, mas temos muitos outros bens públicos sendo geridos continuamente por entidades públicas por inteiro e até por entidades privadas.

Então, por qual razão chegamos a esse ponto de tanta caixa preta em todo o sistema de gestão do bem público? Certamente, pela falta de uma série de ferramentas de gestão, muitas delas carimbadas de governança já que assim têm um charme maior, que não têm sido aplicadas de forma abrangente, contínua e recorrente.

A começar pela mais óbvia de todas, a contabilidade!2020-03-29 (7)

A contabilidade foi concebida por um frei da igreja católica para o registro e controle das arrecadações, dos dispêndios, obviamente, e do patrimônio. Desde então a contabilidade evoluiu muito, muito mesmo. Hoje já temos o conceito da contabilidade para o setor público, as chamadas IPSAS.

O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) disponibilizou, na íntegra, as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (International Public Sector Accounting Standards – IPSAS), editadas pela Federação Internacional de Contadores (International Federation of Accountants – IFAC), que foram traduzidas para o português em junho de 2012. Isso mesmo, 2012! As IPSAS são as normas internacionais, em níveis globais, de alta qualidade para a preparação de demonstrações contábeis por entidades do setor público.

2020-03-29 (6)Com a edição IPSAS traduzidas, a contabilidade pública brasileira dá (pode dar) um passo importante no sentido da sua normatização contábil. Em decorrência dessa nova visão, a contabilidade no setor público pode ocupar-se, como sempre deveria ter feito, do registro e da apreciação dos fluxos econômicos bem como do desempenho da gestão e da respectiva situação financeira e patrimonial, e ainda possibilitar transparência a toda a população.

Recentemente, o CRCSP tratou do assunto em um artigo que destaca: ”Assim como o profissional da contabilidade auxilia os gestores da área privada fornecendo dados que contribuem para a tomada de decisões, ele pode [e deve] contribuir para a transparência no setor público elaborando relatórios em linguagem simples e objetiva, assegurando que as informações seja compreendidas pelos cidadãos sem formação na área contábil.”

Quem não gostaria de abrir uma página de internet de uma cidade, um estado, ou do governo federal e encontrar ali um relatório contábil, financeiro, econômico e patrimonial, pronto e compreensível?

E vamos além! Não é somente a contabilidade que se modernizou e provê regras para o setor público poder “abrir sua caixa preta” de forma transparente. As auditorias externas independentes também evoluíram e estão preparadas para auditar esses demonstrativos. E se pensamos que essa hipótese e possibilidade poderia ser ficção, melhor verificarmos na própria página do governo federal americano. Está lá o demonstrativo anual das contas do governo com o respectivo relatório de auditoria. Qualquer um de nós pode consultar.

Inclusive a Lei das Sociedades por Ações, atualizada em 2007, requer divulgação desses demonstrativos, auditados, de entidades privadas de grande porte, com faturamento maior que R$ 300 milhões por ano. E o que temos visto nesses dez anos, é muito mais uma guerra jurídica pelo “não” fazer do que uma busca pelo “sim, vamos fazer e fazer da melhor forma”!anefac

Não faltam ferramentas de gestão apropriadas para “abrirmos a caixa preta” de várias entidades governamentais. O controle, a gestão, a auditoria e a transparência das contas públicas é um caminho único e necessário, em uma só direção, e deve ser buscado e trilhado tanto pelo gestor público como privado, continuamente.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em março de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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O poder da marca e seu canal de distribuição

As-marcas-mais-valiosas-do-BrasilTemos tido como referência nos últimos anos, principalmente nesta década, a Amazon como um dos melhores e maiores exemplos de poder sobre os canais de distribuição. Por meio da Amazon podemos ter acesso a uma infinidade de produtos de qualquer ponto do planeta. Sem dúvida, a Amazon se tornou um gigante na venda e entrega de produtos numa amplitude nunca antes imaginada.

Entretanto, produtos de compra, consumo e/ou uso rotineiro e até diário, têm características distintas e ainda estão caminhando lentamente dentro da Amazon. Um exemplo são os itens de compra em um supermercado, que apesar de parecer algo do presente, a compra e entrega em casa ainda são componentes do futuro. Mas o que vimos mais recentemente nos chama muito a atenção pela combinação de marca renomada de um lado e pelo canal de distribuição de outro lado e vice-versa.

Em um desses casos, a Nestlé e a Starbucks anunciaram que concluíram seu acordo de licenciamento para que a gigante suíça de alimentos comercialize os cafés e chás da Starbucks em todo o mundo. O acordo de US$ 7,15 bilhões pagos pela Nestlé à Starbucks, concede à Nestlé direitos perpétuos para vender produtos da Starbucks, como Starbucks, Best Coffee e TeavanaTM/MC de Seattle, fora das lojas de café da empresa americana.

Outro caso já sabido, mas que agora tem-se uma estimativa, é o de quanto o Google paga à Apple para continuar sendo o mecanismo de pesquisa padrão no Safari no iOS. De acordo com o analista Rod Hall (via Business Insider), o Google pode estar pagando à Apple mais de US $ 9 bilhões este ano. A relação entre o Google e a Apple sempre foi interessante, pois acredita-se que a Apple é um dos maiores canais de aquisição de tráfego para o Google.

Empresas gigantes e poderosas individualmente, e ainda assim com diferenciais surpreendentes que leva uma delas a buscar a outra para acordos de valores bilionários, associados à marca e canais de distribuição. O modelo das cinco forças de Porter já identificava esses elementos e destinava-se a análise da competição entre empresas.Marca branding-o-que-e-como-fazer-gestao-marca-exemplos

A análise das cinco forças de Porter possui uma lógica simples, mas que exige uma visão abrangente do negócio, onde o administrador precisa ser capaz de entender o ambiente competitivo para identificar ações e estratégias a serem adotadas.

Ameaças de novos entrantes: esta é uma das cinco forças identificadas por Porter, associada a ameaça de um novo concorrente dependendo da existência de barreiras de entrada. Entre as principais barreiras nós temos: a economia de escala, o capital necessário e a dificuldade de acesso aos canais de distribuição. E, nos casos citados, vemos que o acesso aos canais de distribuição é fundamental.

No primeiro, Nestlé e Starbucks são gigantes no processamento e venda de café no mundo, e mesmo em oposição a se confrontarem, decidiram se unir com as forças maiores de cada um deles. De um lado uma marca de consumo residencial e canais de distribuição para esse propósito e de outro, uma marca muito forte de consumo imediato em loja como principal atrativo, com uma das maiores redes de lojas de café no mundo.

No segundo caso, uma marca que tem seus produtos nas mãos de quase metade das pessoas que possuem celulares no mundo, a Apple, e de outro, uma marca de busca que precisa estar de forma simples e prática disponível para que possamos usá-la a todo o tempo, o Google.

Notamos o quanto ações estratégicas dessa natureza são importantes ao verificarmos a confirmação de que a Vulcabras celebrou recentemente um contrato de compra da Under Armour Brasil. Esse contrato inclui contratos de licença e operação que darão à Vulcabras direitos de ser a distribuidora e licenciada exclusiva das marcas “Under Armour” no Brasil para calçados, vestuário e acessórios.o-que-e-marca

Empresas gigantescas no mundo e no Brasil, buscando assegurar formas apropriadas de que seus produtos e serviços estejam associados a outras marcas e canais de distribuição gigantescos para que os consumidores tenham real acesso e possam comprar e consumir seus produtos e serviços. E vale aqui salientar de que essa estratégia [de Porter] serve e deve ser considerada por toda e qualquer organização, independentemente do seu tamanho.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em dezembro de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A excelência disruptiva sendo desafiada

Amazon-building-10b3c7Em entrevista recente ao The Sunday Times, Russell Grandinetti, vice-presidente sênior de consumo internacional da Amazon, disse que seu trabalho era focar no crescimento – e é para os outros descobrirem como lidar com as ondulações que a Amazon cria no mercado, conforme artigo publicado pela Inc. Magazine.

Nas palavras dele reproduzidas na internet em uma tradução livre: “As empresas muitas vezes inventaram tecnologias que nos obrigaram a descobrir como reinvestir as melhorias de produtividade [ganhos de produtividade] em novos empregos e novas formas [de fazer as coisas]”, disse ele. “Isso é uma coisa importante a ser feita para a sociedade, uma coisa governamental importante a ser feita. Não acho que seja nosso trabalho fazer algo [ao se referir às ondulações/impactos que a Amazon cria no mercado], mas [sim] tentar sermos realmente bons no que fazemos.” Disponível em: <https://www.inc.com/business-insider/amazon-only-concerned-with-growth-not-whether-it-takes-your-job.html> Acesso em: 03 de setembro de 2018

Temos admirado a Amazon nos últimos anos, temos sido beneficiados por sua operação continuadamente disruptiva e, ao mesmo tempo, sido muitas vezes vítimas das suas investidas. Podemos discutir longamente sobre a ruptura e decadência das livrarias e depois do mercado de lojas e shoppings; e até culpar a Amazon por isso, mas o que me parece é que ela muito mais se antecipou a esse acontecimento via e-commerce do que o oposto. E no momento nos parece que o e-commerce é um caminho sem volta, que a lojas físicas permanecerão em existência, mas o modo como cada uma delas opera e atende clientes deve melhorar e terá de ser em harmonia com o e-commerce.

Em oposição a desafiar uma empresa que se tornou um símbolo de ruptura no mundo dos negócios, que tem se tornado um verbo como “amazonar” um negócio, Brian Stoffel do site “The Motley Fool” optou por extrair conhecimento das cartas aos acionistas que Jeff Bezos escreveu nestes 20 anos de companhia aberta [1997-2017]. Disponível em: <https://www.fool.com/investing/2018/08/04/20-years-of-wisdom-from-amazons-jeff-bezos.aspx> Acesso em: 03 de setembro de 2018

Excelencia-na-gestao-das-empresas-telecomunicacoes-1000x800Extrai três dessas 20 notas que acredito são bem interessantes para nossa realidade, todos em uma tradução livre.

1º – 2009: How to set goals – como definir metas. A Amazon define muitos objetivos. Quase nenhum deles tem a ver com resultados financeiros. Em vez disso, eles se concentram no que podem controlar: o processo.

  • Líderes seniores que são novos na Amazon geralmente ficam surpresos com o pouco tempo que gastamos discutindo os resultados financeiros reais ou debatendo as projeções financeiras. … Focar nossa energia nos insumos controláveis para o nosso negócio é a maneira mais eficaz de maximizar os resultados financeiros ao longo do tempo.

2º – 2011: Eliminating gatekeepers helps the world… and us (Eliminar porteiros [atravessadores ou intermediários] ajuda o mundo … e nós). Alguns acreditam que a Amazon é um monopólio que precisa ser desfeito. Mas os detratores devem reconhecer que a Amazon Web Services (AWS), o Kindle Direct e o Fulfillment by Amazon (FBA) eliminaram os intermediários e permitiram que empresas menores e autores florescessem por um preço [custo] relativamente pequeno.

  • Mesmo intermediários bem-intencionados retardam a inovação. Quando uma plataforma é self-service, até mesmo as ideias improváveis podem ser tentadas, porque não há um guardião experiente pronto para dizer “isso nunca funcionará!” E adivinhe: muitas dessas ideias improváveis funcionam e a sociedade é a beneficiária dessa diversidade.

3º – 2015: Two-way doors vs. one-way doors (Portas bidirecionais versus portas unidirecionais): Bezos percebe que a maioria das decisões é reversível. Você pode usar os conselhos dele abaixo em quase todas as facetas da sua vida.

  • Algumas decisões são consequentes e irreversíveis ou quase irreversíveis – portas unidirecionais – e essas decisões devem ser feitas de maneira metódica, cuidadosa e lenta. … Se você passar e não gostar do que vê do outro lado, não poderá voltar para onde estava antes. Podemos chamar essas decisões do tipo 1. Mas a maioria das decisões não é assim – elas são mutáveis, reversíveis – são portas de mão dupla. Se você tomou uma decisão do tipo 2 que não é ideal, não precisa viver com as consequências por tanto tempo. Você pode reabrir a porta e voltar. As decisões do tipo 2 podem e devem ser tomadas rapidamente por indivíduos com alto julgamento ou pequenos grupos.

Amazon 2019-10-28 (2)Amazon 2019-10-28 (1)De forma resumida acredito que das 20 lições extraídas por Brian Stoffel, as três listadas a seguir são muito relevantes para nossa realidade política, econômica e social:

  • Como definir metas;
  • Eliminar os intermediários;
  • Classificar nossas decisões em: portas bidirecionais versus portas unidirecionais.

E, acima de tudo, os ensinamentos encontrados nessas palavras são muito relevantes e podem nos ajudar em nosso dia a dia em quase todas as facetas de nossa vida.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em outubro de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Por que uma empresa não decola

IcebergA todo tempo os investidores, sejam eles individuais ou coletivos, amadores ou profissionais, de risco ou não, estão buscando startups e empresas em operação para colocar seus recursos financeiros na expectativa de retorno, certamente, financeiro.

Desde o cidadão mais comum até o investidor sofisticado, cada um de alguma forma tem seu critério para analisar uma empresa seja em crescimento, valor, dividendos, ou mesmo em recuperação e, portanto, de alto risco e alto potencial de retorno. Mas alguns elementos em qualquer uma dessas empresas são fundamentais para que qualquer uma delas se estabeleça (portanto uma startup), cresça e então permaneça sólida e dando resultados.

Para início de análise, qualquer empresa estabelecida e, principalmente uma startup, precisa do conceito chamado “addressable market” que significa mercado endereçável, mercado-alvo ou mercado disponível e até mesmo mercado atingível. Esse conceito, a princípio, considera o mercado total atingível pelo produto ou serviço, em uma hipótese sem competição ou concorrência.

Sem um mercado-alvo, não há empresa que sobreviva, nem startup que se desenvolva e cresça. O mercado endereçável mostra a escala potencial do mercado, do negócio. Identificar a existência e estimar o mercado potencial são os primeiros passos para os empreendedores iniciarem seus negócios. Muitas empresas não decolam e outras sucumbem por não atentarem para esse princípio fundamental e que evolui constantemente.

Para ilustrarmos esse conceito tomemos como base um livro escrito em um certo idioma. Enquanto esse livro não for traduzido para outros idiomas seu mercado-alvo serão apenas as pessoas fluentes naquele idioma (claro que aqui não vamos entrar em outros detalhes). Muitas empresas também não têm tão claro seu mercado-alvo e, por isso, não decolam nem se consolidam.

Na sequência temos o conceito chamado “economic moat”, “fosso econômico” numa tradução livre, que podemos também chamar de barreira econômica ou, no conceito de Porter, barreira de entrada. Aparentemente, esse conceito do fosso econômico vem de Warren Buffett, um dos investidores de maior sucesso no mundo. O termo refere-se à capacidade de uma empresa de manter uma vantagem competitiva sobre os seus rivais e, assim, proteger a sua rentabilidade e participação de mercado a longo prazo. Assim como um castelo medieval, o fosso serve para proteger aqueles dentro da fortaleza e suas riquezas de forasteiros.

CastleEssa barreira econômica é construída ao longo do tempo. Mesmo que se tenha um diferencial imediato nos produtos ou serviços, uma empresa não tem de imediato, de forma visível e ampla, como essa barreira vai realmente beneficiar seus negócios.

Um dos melhores exemplos atualmente desse conceito é a Amazon, que construiu sua barreira, seu fosso, ao longo de vários anos. Embora o setor de Varejo esteja repleto de concorrência, o fosso que o e-commerce e o web-service que a gigante Amazon.com tem construído ao longo do tempo vai ser quase impossível de se superar. O segredo (não de fato pois todos sabem) da Amazon para o sucesso inclui, principalmente, o seu sistema de distribuição intrincado e de razoavelmente baixo-custo. O que isso finalmente significa é a capacidade de redução do preço de praticamente qualquer produto em relação ao varejista tradicional.

Mas nem mercado potencial nem barreira de entrada são suficientes para qualquer empresa sem “leadership”, seja a liderança do idealizador, do fundador ou de seu principal executivo. Não importam as circunstâncias, a liderança de um negócio é imprescindível seja no seu início, desenvolvimento, crescimento, estabilização ou valorização. Assegurar a identificação e a escolha do mercado potencial correto e apropriado, além de construir as barreiras de entrada continuamente ao longo do tempo, é tarefa da liderança.

Não faltam exemplos da importância da liderança para um empresa. A Dell estava prestes a sucumbir e seu fundador teve que voltar para recuperá-la. Mais emblemático ainda é o caso recente de Jack Dorsey, um dos criadores do Twitter e também do Square. Depois de algum tempo fora da posição de presidente executivo (CEO) do Twitter, em 2015 ele voltou para recuperá-lo.

Nos últimos três anos ele tem atuado como CEO das duas companhias, Twitter e Square, abertas com ações na Bolsa de Valores. Nesse período, o Twitter teve um período muito difícil, mas Dorsey conseguiu restabelecer os negócios de tal forma a ponto de começar a gerar resultados (lucros) trimestrais e o valor da ação subiu perto de 50% da época de seu retorno. Ao mesmo tempo, a receita do Square triplicou e o valor da ação quadruplicou. Não há dúvidas da importância da liderança em uma empresa, qualquer que seja.

round tableNos dois casos, do Twitter e do Square, o sucesso de ambos somente acontece pois a liderança tem sido capaz de lidar com esmero, cuidado e habilidade os temas de mercado potencial e barreira de entrada. A todo tempo, a liderança de uma empresa precisa sempre ter claro e atualizado qual seu mercado potencial (endereçável, atingível) e estar continuamente construindo sua barreira de entrada, seu fosso econômico, para assegurar sua valorização e perenidade no longo prazo.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em setembro de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Mais do mesmo: carga tributária, burocracia e gestão madura

Há 10 anos, alguns jornais estampavam na capa o título “Carga tributária e burocracia emperram desenvolvimento” ou apenas “Gestão madura”. Já conhecemos essa discussão há décadas e ainda hoje continuamos a vê-la nos jornais e revistas.Circulo vicioso 1

Além do debate sobre a carga tributária e a burocracia vemos, mais acalorado nos dias atuais, a discussão sobre as contas do governo central e dos governos regionais, estaduais e municipais. Muitos deles estão no chamado “vermelho”. A arrecadação não sustenta os pagamentos.

As causas são variadas e podem ser vistas de vários ângulos, além de serem debatidas exaustivamente. Muito se fala sobre o que deveria ter sido feito ou sobre o que não foi feito, mas fazer algo, seja no passado é impossível ou agora que a situação das contas públicas se agravou, demanda atos de gestão.

Vamos lembrar que estamos em um ponto de virada de melhoria das condições econômicas, e mesmo assim, não vemos somente as contas públicas no vermelho. Há muitas empresas privadas também na mesma situação.

Crises acontecem e não temos controle de tudo, tanto na nossa vida pessoal ou na vida da empresa em que atuamos. Entretanto, aqueles que têm o papel, a função de gestão – seja pública ou privada, atuam com a responsabilidade da gestão das circunstâncias atuais sob seu comando com foco no futuro.

Estamos prestes a ter uma retomada econômica. Seja ela rápida ou lenta, vai acontecer gradualmente e de forma diferente para cada um de nós. E aí está a nossa oportunidade de gestão do momento atual com vistas no futuro que se vislumbra.

Ainda hoje criticamos a carga tributária e a burocracia. Será que vamos continuar por mais dez anos, criticando? Não importa. Com carga tributária alta e burocracia, ou não, o que devemos buscar é a gestão madura dos negócios.Circulo vicioso 2.png

“Bem estruturadas e mais competitivas, as empresas com boa gestão alcançam muito mais do que simplesmente aumento da receita, alcançam também crescimento sustentável e consolidação dos negócios”. Essa é uma constatação aparentemente óbvia e muito negligenciada, seja há 10 anos ou nos dias de hoje. Enquanto uma matéria jornalística mostrava a questão da carga tributária e da burocracia da época, algo externo ao controle da maioria da classe empresarial, a outra reportagem realçava a importância da gestão madura dos negócios, integralmente sob controle de cada um de nós, empresários ou dirigentes empresariais.

Não há fórmula mágica em nenhum momento, mas, sim, uma oportunidade de focar naquilo que se consegue atuar a despeito das circunstâncias externas. Estamos falando de priorizar a gestão madura e efetiva, e buscar os resultados esperados nas circunstâncias postas. Não devemos preparar nossos planos com esperanças vazias de que um milagre vai acontecer e que, tanto a carga tributária quanto a burocracia, serão reduzidas rapidamente.

Não faltam exemplos no mercado de que a gestão madura (e vou além: ética) e efetiva, preservam os negócios a longo prazo. Basta vermos os diversos “rankings” que temos como exemplo. Não precisamos olhar apenas para nossos indicadores nacionais de empresas, podemos ver os indicadores internacionais e verificamos os mesmos efeitos.

As reportagens a que me refiro neste artigo são datadas de 1º de maio de 2008. Todos nós lembramos daquele ano pelos acontecimentos no segundo semestre. A crise financeira de 2008 foi identificada como a maior da história do capitalismo desde a grande depressão de 1929. O evento detonador da crise foi a falência do banco de investimento Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008 após a recusa do Federal Reserve (FED, o banco central americano) em socorrer a instituição. Desde então, os EUA já se recuperaram dessa crise, e em 10 anos, já estão a todo vapor.Circulo vicioso 3.png

Comparativamente, o Brasil não se recuperou ainda nessas mesmas proporções. Das principais empresas componentes do mercado há dez anos, algumas mais relevantes tiveram uma década de má-gestão de toda forma, causando resultados negativos devastadores. Outras ainda tiveram algum encolhimento pelas razões mais diversas. A maiorias delas que não foi bem nesses últimos anos, teve desempenho ruim por razões completamente diversas a alta carga tributária e a burocracia.

Não foram esses dois fatores [carga tributária e burocracia] que prejudicaram essas empresas, até porque se sabe que aquela foi uma crise econômica sem precedentes. Por outro lado, certamente, foi uma gestão madura que propiciou à algumas empresas nesse período, não só sobreviver, mas se superar com resultados louváveis.

E daqui a 10 anos lendo as mesmas notícias dos temas fora do nosso controle, como será?

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em maio de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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2019: sua empresa está preparada para as mudanças que estão por vir?

previsoes-de-videntes-para-2019É notório o movimento de mudanças pelo qual vem passando nosso país, das quais grande parte da população vinha aclamando. Não se pode negar que as últimas eleições injetaram um forte ânimo na sociedade e boa parte desse evento se deu pelas alterações propostas. Porém se as mesmas serão boas ou não somente o tempo dirá, mas o que temos certeza é que toda mudança gera expectativas favoráveis ao aquecimento de mercado. Prova disso, são os altos investimentos prometidos para 2019 e divulgados na mídia: há promessas de investimento no setor portuário de Santa Catarina de mais de meio bilhão de reais, uma empresa de Singapura confirmou a abertura de uma fábrica de café no Espírito Santo com investimento na casa dos 500 milhões de reais, uma outra empresa suíça anunciou o investimento de 150 milhões de reais em um projeto em Minas Gerais; a Havan divulgou um investimento de meio bilhão de reais em todo país, enquanto a Toyota fala em investir um bilhão de reais, entre outros.

foto-conceito6Esses investimentos comprovam que o Brasil entrou novamente no radar de investimentos estrangeiros, foco há muito buscado por nossos governantes e que vem se mostrando também através da entrada de novos fundos de investimentos com grande apetite para projetos de empresas locais.

Um relatório apresentado pelo banco suíço Credit Suisse nos últimos dias coloca o Brasil de volta às apostas globais. Em matéria divulgada na Infomoney, Sylvio Castro, chefe de investimentos da instituição no país, relata que estão “mais otimistas com o Brasil como não estávamos pelo menos nos últimos cinco anos”, e aponta ainda a força da moeda nacional como um desses principais atrativos já que “globalmente, deve haver moderação (no crescimento) em 2019, mas o Brasil é uma das raríssimas exceções em que esperamos aceleração”, afirmou o executivo.

Todavia, nem tudo são flores no jardim tupiniquim! Sem mencionarmos fatos pontuais ocorridos em razão de operações federais tais como Zelotes e Lava Jato, nunca se havia visto antes na história deste país empresários sendo penalizados criminalmente por ações praticadas em suas gestões. E isso tem ocorrido nos mais diversos segmentos desde os mais visados, como por exemplo, combustíveis e bebidas, até aqueles que não tinham tanta exposição como transportes, supermercados, agronegócios, prestação de serviços, plásticos, entre outros.

Essa conjunção de fatores leva o empresário a se questionar: estou preparado para as mudanças que estão por vir? De um lado temos uma forte promessa de investidores buscando na vitrine do mercado projetos para seus investimentos e de outro empresas que não estão estruturadas o suficiente para receberem esses valores muitas vezes necessários não apenas para um projeto de expansão, mas para a própria subsistência de sua operação.

untitledEmpresários nacionais precisam se conscientizar para uma nova cultura de adaptação às transformações que estão sendo adotadas pelo mercado. Independentemente do seu porte, todos estão sujeitos a ajustes em seus conceitos. Multinacionais trazem em seu DNA a cultura de suas matrizes e acabam se adaptando melhor a essas mudanças, porém em um cenário cada vez mais globalizado os conceitos precisam ser únicos, o que facilita uma avaliação no momento de um novo negócio ou da busca por um investidor estrangeiro.

Empresas médias e grandes, e notadamente as de cunho familiar, precisam olhar para dentro do seu negócio e rever conceitos e procedimentos, mas principalmente necessitam avaliar se elas já estão prontas para a nova filosofia que o mercado aplica.

Isso implica em avaliar sua maturidade frente a estes novos conceitos.

gdpr-alert-180x180Na prática, empresas preparadas para o novo mundo que se apresenta, saem na frente quanto a captação de recursos, destacam-se em concorrências, mostram profissionalismo e, acima de tudo, preocupação não apenas com seus clientes e colaboradores, como em todo ecossistema em que está inserida. Isso as coloca em um local de destaque dentro do seu mercado de atuação e frente aos demais concorrentes, elas terão uma vantagem reconhecida por toda sociedade.

Em dias atuais não basta para uma empresa se destacar, ter um negócio lucrativo e de bom rendimento se não estiver estruturado. Investidores, hoje, buscam não apenas a lucratividade como também a segurança de cada operação. Imaginar que a empresa está com as vendas aquecidas e que tal fato é suficiente para se manter vivo no mercado, ou para colocá-lo no topo, é um pensamento retrógrado que não cabe mais na filosofia globalizada em que nosso país está se inserindo.

A garantia de uma estabilidade de segurança a dirigentes, sejam eles proprietários, executivos, diretores ou outros, é primordial para a atração de mercado, de pessoas e de novos negócios para as empresas e o empresário não pode ignorar esses novos conceitos.

Governança-2Não podemos esquecer a importância dos novos governantes que estarão assumindo em 1 de janeiro de 2019. Reformas primordiais precisam ser avaliadas e votadas, medidas precisam ser tomadas. O Portal da Indústria traz um artigo interessante sobre o futuro do país projetado entre 2019 e 2022, onde se apresenta como visão da indústria pontos cruciais para o sucesso do novo Governo alcançar melhora no ambiente macroeconômico, tais como: conter a dívida pública abaixo de 88% do PIB; a inflação abaixo de 0,3% do PIB; controle dos gastos públicos para atingir um superávit primário de 0,3% do PIB; aumentar a taxa de investimento dos atuais 16,4% para 21% do PIB.

Porém o mercado privado não pode simplesmente cruzar os braços acreditando que as mudanças trazidas por uma eleição e, principalmente, ações de candidatos eleitos sejam suficientes para atingirmos os patamares almejados. A CNI – Confederação Nacional da Indústria apresentou aos novos governantes seu mapa estratégico 2018/2022 com previsão de decisões e ações necessárias de cada setor, seja ele público ou privado, atuando tanto isoladamente quanto em conjunto. Mas o que merece destaque é o capítulo 2 do referido documento, com o seguinte título: “A Diferença Que A Gestão E Eficiência Fazem Para O Brasil Crescer” que por sua simples leitura deixa clara a necessidade de adaptação do empresário a novos conceitos e a uma governança, seja ela fiscal, de compliance, ou outras que sua empresa esteja sujeita para o sucesso do futuro do nosso país em uma visão mais macro, como do seu próprio negócio em uma avaliação mais direta e pontual.

A sociedade de uma forma geral ansiava por mudanças para que o país fosse colocado novamente na rota de investidores estrangeiros, da inovação e, principalmente,da geração de empregos. E nesse sentido, segundo o Caged do Ministério do Trabalho, foram geradas quase 60 mil vagas formais de emprego em outubro de 2018, mas para que estes dados continuem a crescer, a bolsa se valorizar e os números continuem a ser atrativos, cada um precisa fazer a sua parte e sem qualquer sombra de dúvida, a classe empresarial terá um papel fundamental nessa manutenção de crescimento.

Portanto, finalizo com uma reflexão para você: sua empresa está preparada para 2019? Você estápreparado para as mudanças que o mercado apresenta? Pense nisso e seja um destaque no seu segmento!

 

André Brunialti: Advogado especialista em Gestão de Risco Jurídico, Planejamento Tributário, Contencioso Fiscal e Recuperação de Tributos, além da Área Societária com Estruturação de Quadros Sociais, Sucessões e Proteção Patrimonial.

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Conformidade, Controles Internos, Gestão empresarial, Governança, Risco Empresarial

Conformidade fiscal: Um “bônus” legal para empresas no Estado de São Paulo

bonus legalHá poucas semanas o brasileiro foi às urnas para eleger seus novos governantes na esperança de melhores rumos na economia do país. Aparentemente funcionou, já que segundo publicação do Infomoney, o Ibovespa futuro saltou até quase 1% e o dólar caiu 2,33%, acompanhados pelas taxas de juros futuros que também desabaram. O ADR – American Depositary Receipts, da Petrobras, disparou 14%. Em tempos de eleições conturbadas com disputas radicalizadas, estes resultados trazem uma tendência pouco observada, qual seja, a alteração de comportamento dos conceitos tradicionais.

Pesquisas diversas já mostravam anteriormente que 85% dos consumidores preferem adquirir seus produtos de empresas mais sustentáveis, com comprovada transparência tanto de atividades próprias quanto do ecossistema que está inserida. Portanto, hoje não basta ser honesta e estar em conformidade com as normas vigentes, mas vale também se preocupar com todo o entorno onde está inserida, verificar a regularidade e “fiscalizar” de forma saudável ambas as pontas (fornecedor e cliente). Tudo isso é ponto crucial para uma melhor aceitação mercadológica.

Essa tendência de transparência vem ganhando força em nosso país com a edição de novas normas de conformidade, as chamadas regras de “compliance”. Não é raro encontrarmos essas normas em vigência em várias agências reguladoras dos mais diversos segmentos como ANGEL, ANATEL, ANVISA, ANP, ANA, SRFB, BACEN, entre outras.

conformidade legalOs Estados, por sua vez, também já vêm adotando em suas legislações, normas de conformidade para seus contribuintes, e a exemplo do que ocorreu com o Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais e Rio de Janeiro, agora é a vez do estado de São Paulo editar sua lei de conformidade fiscal, e o fez através da Lei Complementar 1.320 de 2018. Essa lei foi editada em alinhamento com o órgão internacional TADAT – Tax Administration Diagnostic Assessment Tool, parceiro da União Européia, Japão, Suíça, Alemanha, Reino Unido, Noruega, entre outros, o que traz sinergia entre esses países e empresas, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte, e que com eles tem algum tipo de relação comercial.

Mas a vantagem da lei complementar está muito além do alinhamento com órgãos internacionais, notadamente nos benefícios que ela pode trazer para contribuintes mais antenados, conforme veremos mais adiante.

A mídia especializada está dizendo que a lei vem separar o joio do trigo. Porem essa mudança serve para as empresas que realmente estão atentas a essa nova tendência, pois não é raro, também, encontrarmos empresas com diversas práticas de compliance, porém em total desalinhamento entre elas, o que impossibilita o uso do bônus legal.

A lei, traz em sua essência um caráter responsivo entre fisco e contribuinte buscando abrir um canal de comunicação até então inexistente e traz inovações para tanto. Viabiliza a realização de audiências públicas, uma das quais já ocorridas junto a instituição FGV, a fim de debater sobre as regras de procedimento da LC, buscando na sociedade profissionais especializados para opinarem e trazerem novas soluções.

Além disso, traz um formato de classificação de contribuintes privilegiando os mais adimplentes e em conformidade dentro da sua cadeia de fornecimento, gerando um critério que os classifica como A+, A, B, C, D, E e NC – Não Classificado. Todavia, esse novo sistema de classificação não é engessado e possibilita uma revisão periódica de acordo com a previsão do seu regulamento, da qual o contribuinte poderá se re-enquadrar dentro das categorias previstas.

O que chama a atenção na LC 1.320 é que o critério classificatório não leva mais em consideração apenas o índice de adimplência do contribuinte quanto ao pagamento de seus tributos estaduais, mas também a contumácia no cumprimento de obrigações acessórias e, principalmente, o grau de relacionamento com fornecedores regulares e em conformidade fiscal. Essa nova regra não foge à tendência atual de regular o compliance não apenas nas atividades da empresa avaliada, mas também de toda sua cadeia de fornecimento. Ou seja, a avaliação e a preocupação ocorrem em todo o ecossistema onde ela está inserida.

conformidade legal 2 .pngDentre os principais benefícios que as empresas mais bem classificadas poderão gozar estão: 1) Autorregularização em substituição à lógica do Auto de Infração; 2)  Autorização para apropriação de crédito acumulado com a observância de procedimentos mais simples; 3) Efetiva restituição do imposto pago antecipadamente por conta da substituição tributária através de procedimentos simplificados; 4) Autoriza o pagamento do ICMS relativo à substituição tributária, com origem em outra unidade federada, onde o valor do imposto não foi anteriormente retido através da compensação em conta gráfica ou recolhimento por guia especial até o dia 15 do mês subsequente; 5) Autoriza o pagamento do ICMS relativo à importação de mercadoria oriunda do exterior por meio de compensação diretamente em conta gráfica; 6) Renovação de regimes especiais concedidos, por meio de procedimentos simplificados; 7) Inscrição de novos estabelecimentos com o mesmo titular no cadastro de contribuintes levando-se em consideração procedimentos simplificados; 8) Transferência de crédito acumulado para empresa não interdependente por meio de procedimentos simplificadosdentro das condições estabelecidas em regulamento, desde que gerado em período de competência posterior à publicação dessa lei complementar, respeitando o limite anual previsto no regulamento; 9) Autoriza a apropriação de até 50% do crédito acumulado observando-se procedimentos simplificados.

Por ser inovador, o texto da lei pode parecer complexo e confuso a um primeiro momento, e até trazer desconfiança quanto a praticidade de sua implantação, porém o fisco vem trazendo mudanças consideráveis ao abrir o debate ao setor privado para esclarecer, elucidar e até buscar novas orientações para regular os procedimentos da lei, o que a nossos olhos é um ponto bastante positivo.

Vale ao empresário atento buscar se organizar e criar uma política de conformidade própria, certo que, como já mencionamos, grande parte das empresas já possuem essa prática, mas não estão alinhadas em políticas próprias.

Um diagnóstico que avalie o grau de maturidade da sua empresa pode facilmente apontar o nível que ela se encontra e quais os alinhamentos necessários para um melhor aproveitamento da Lei Paulista, assim como, outras vantagens que as normas de conformidade podem oferecer.

 

André Brunialti: Advogado especialista em Gestão de Risco Empresarial, Jurídico, Planejamento Tributário, Contencioso Fiscal e Recuperação de Tributos, além da Área Societária com Estruturação de Quadros Sociais, Sucessões e Proteção Patrimonial.

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Conformidade, Conhecimento, Controles Internos, Gestão empresarial, Gestão pessoal, Governança, Risco Empresarial

O compliance pode chegar até você facilmente!

Compliance (conformidade) é uma palavra que tem ganho notoriedade nos últimos tempos com operações como mensalão, zelotes, Lava-Jato e outras. Vocábulo até pouco tempo quase sem uso, hoje se tornou frequente em conversas de empresários antenados.

Mas o que realmente significa compliance e como ele está inserido no dia a dia da sua empresa? Já mais conhecido e habitual em empresas multinacionais, as quais já estão sujeitas a regras internacionais de seus países de origem, o compliance nada mais é do que se manter em conformidade com todo o regramento que rege as ações e atividades da sua empresa. Nesse contexto temos desde normas macro que alcançam a todos, como as internacionais FCPA – Foreign Corrupt Practices Act Americana, Bribery Act 2010, ISO 19.600 e 37.001, chegando até as nacionais Lei 12.846/13, Decreto 8.420/15; descendo para níveis mais específicos de agências reguladoras, autarquias e órgãos específicos (ANEEL, ANATEL, ANVISA, BACEN, SRFB, etc.). Essas normas ainda podem até chegar em níveis próprios, tais como visão, missão, e valores da empresa; regimento interno; normas de conduta; regras de comportamento e atividades, entre outros. Isso é o que consideramos como uma análise vertical, já que trata-se de uma avaliação das normas que se impõem a uma empresa de cima para baixo, normas gerais até chegar nas mais específicas.

stj-1Uma outra visão, ainda no corte vertical, é a questão da hierarquia da empresa. Como é composto seu organograma e quais os cuidados e ações que ela tem tomado para proteger seus colaboradores dentro dos níveis organizacionais. Sabemos que atualmente todos são responsáveis pelas ações da empresa, poréma cada ação de compliance tomada, essa responsabilidade pode se dirimir em relação a responsáveis solidários direcionando-a apenas ao responsável pelo ato/fato. Podemos notar essa confirmação pelo artigo 3o  (Lei 12.846): A responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito.

Por outro lado, temos o que eu particularmente chamo de uma análise mais horizontal ou periférica de compliance, análise esta capaz de verificar as conformidades e regularidades de tudo e todos que orbitam em torno da empresa. Hoje não se pode ter um sistema de compliance completo olhando apenas para “dentro de casa”, ou seja, apenas para o funcionamento interno da empresa, sem considerar as influências externas, como por exemplo, fornecedores, ambiente social e estrutural em que está inserida, clientes, sistemas, entre outros. Muitas das vezes essas influências externas acabam impactandode maneira mais contundente o compliance de uma empresa do que as próprias ações e reações internas, motivo pelo qualnão se pode avaliar seu compliance sem considerar tais influências.

Para um bom entendimento desse impacto, podemos apresentar alguns exemplos de situações práticas já avaliadas:

a) em uma operação financeira, por exemplo, as instituições financeiras, atualmente, têm ido além do cuidado de avaliação e risco de crédito para análise de liberação de algum valor, isso pelo fato de que, caso financie algum empreendimento que venha a causar qualquer tipo de dano, pode se responsabilizar solidariamente por isso. Portanto, a existência de uma norma interna adequada nesta instituição pode amenizar sua responsabilidade e se provado que esta norma é devidamente aplicada e reconhecida por seus colaboradores, consequentemente diminui-se qualquer prejuízo que possa lhe ser imputado – notamos que já existem decisões sobre a responsabilidade solidária de instituições financeiras;

b) o mesmo pode, por exemplo, ocorrer com um call center terceirizado. O atendente pode tratar de maneira inadequada, racista ou até ofensivamenteum cliente e, nesse caso, não apenas o call center será penalizado, mas também a empresa que ele está representando naquela tarefa. Essa situação pode ser minimizada se a empresa que o contratou possuir um regimento interno prevendo normas de atendimento, ou ainda, uma regra específicade como tratar pessoas que com ela interagem – notamos que já existem decisões sobre a responsabilidade solidária de call centers.

Atualmente empresas têm buscado a implantação de sistemas de conformidade (compliance) não apenas para se manterem regulares, mas principalmente para dirimir prejuízos e responsabilidades em relação a seus diretores, executivos e demais colaboradores dentro de um organograma de liderança. Muitas vezes essa busca tem acontecido de forma inconsciente e até desordenada necessitando apenas de alguns ajustes.

Para saber se sua empresa tem ou não alguma proteção quanto a fatos que possam lhe imputar responsabilidades perante terceiros, e entenda-se aqui responsabilidade no sentido lato envolvendo prejuízos financeiros e consequências criminais, existem hoje sistemas de medição do grau de maturidade de cada empresa em relação aos sistemas de compliance, tendo como um dos mais utilizados o americano Compliance Maturity Model da Society Of Corporate And Compliance Ethics [US Federal Sentencing Guidelines For Organizations Section 8b2.1, Effective Compliance And Ethics Program]. Esta forma de medição e avaliação identifica quais riscos sua empresa pode estar correndo tanto na visão vertical quanto horizontal frente às influências a que está sujeita.

Com certeza, o compliance está presente na vida da sua empresa e você pode até não saber identificá-lo, mas ele deve estar internamente em sua estrutura e regras ou chegando até você por reflexos externos da sua atividade e, com o tempo, você não poderá ignorá-lo ou deixar de implantá-lo.

 

André Brunialti – Advogado especialista em Gestão de Risco Jurídico, Planejamento Tributário, Contencioso Fiscal e Recuperação de Tributos, além da área societária com estruturação de quadros sociais, sucessões e proteção patrimonial.

 

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