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A pandemia e a nova realidade econômica

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Ao iniciar esta análise, já há algum tempo, nem esperávamos que teríamos essa pandemia a nossa frente, e por tanto tempo.

Ao abrirmos a página do site do Banco Central (do Brasil, é claro), e buscarmos o Panorama Econômico, vemos a taxa de juros Selic em 7,75% a.a.; sim ao ano! Ainda além disso, temos o IPCA, nossa inflação oficial em destaque, que nos últimos 12 meses foi de 10,67%.

Nada alentador nesse momento! Isso pois sabemos que essa taxa de juros e inflação alta é muito prejudicial. Precisamos de inflação baixa, estável e previsível que traz benefícios a sociedade.

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Ganhar dinheiro com inflação e taxa de juros é uma ilusão de ganho sem produção de riqueza. Debater os ganhos ou perdas econômicas e financeiras descontadas da inflação é uma discussão vazia e sem substância. Analisar ganhos ou perdas financeiras pela relatividade dos fatos, sejam eles de inflação, taxa de juros ou outros quaisquer é uma dependência desnecessária e danosa.

O Brasil mudou e, certamente, apesar desse momento complexo de alta taxa de juros e inflação, ainda vamos colher muitos benefícios dessas mudanças nos próximos 5 a 10 anos. A disponibilidade interna precisa ser posta para o setor produtivo. Muitos recursos financeiros estacionados no mercado financeiro com um rendimento pela taxa de juros alta, precisam migrar para o setor produtivo. Precisamos de novas e mais, aberturas de capital, os chamados “IPO”, a despeito da pandemia.

Para ilustrar o círculo vicioso anterior, aplicávamos no mercado financeiro, lastreado na sua maior parte em títulos do governo brasileiro, e então o governo nos pagava juros com um recurso que ele próprio, o governo, não tinha. Isso pois o governo é deficitário, não arrecada o suficiente para pagar seus custos, nem tampouco os custos da dívida. E o governo não arrecada, em parte [sabemos que esta parte pode ser debatida, mas é verdadeira] pelo déficit econômico do país, ou seja, economia fraca, pouca geração de riqueza, poucos impostos pagos e pouco dinheiro alocado ao setor produtivo.

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A partir do momento em que esses recursos são aplicados no setor produtivo vemos então esse círculo girar para o sentido positivo, produtivo. Os recursos financeiros que são tomados pelas empresas devem ser de longo prazo, permitindo assim o amadurecimento e a concretização dos objetivos de crescimento e produtividade.

Devemos discutir ganhos de produtividade, de riqueza. Devemos discutir a geração de ganhos que permanecem gerando novos ganhos. Se temos sido admiradores dos países ricos então devemos também ser e replicar a forma em que tais países se enriquecem. As maiores riquezas dos americanos estão associadas a riqueza da economia, refletida nas empresas. Na Europa isso não é diferente!

O Brasil pode, e vai enriquecer, e muito, e desta vez será por meio de empresas ricas que forem construídas ao longo do tempo, pautadas na produtividade e geração de riqueza permanente.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em novembro de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A difícil arte das estimativas [e das previsões]

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Não é de hoje que os humanos fazem estimativas, ou de uma forma mais popular, previsões. Sejam previsões técnicas ou não, sejam previsões científicas, ou mesmo espirituais e até filosóficas, estamos a todo tempo fazendo previsões.

Em momentos extremos, de bonança ou de miséria, ou mesmo de doenças e ainda de pandemia, todos fazem previsões e tendem a ser catastróficas, pois somente assim temos uma atenção geral. Beiramos o insano em algumas delas sem nos preocupar com as reais consequências na vida de cada um que ouve e interpreta à sua própria maneira tal previsão.

O extremismo em situações de alto risco para a vida, algo fundamental para o ser humano, até pode ser compreensível pois sempre se busca preservar em primeiro lugar a vida de cada pessoa. Por outro lado, na busca de se preservar a vida de cada um podemos no extremismo pôr em risco a vida de toda coletividade e, então, entramos em um dilema de qual propósito vem em primeiro lugar.

Para quem deseja se aprofundar nesse assunto e buscar alguns tipos de dilemas para ilustração e embasamento de suas próprias teorias, há um ótimo recurso dado aos estudantes de direito logo no início do curso – é a leitura do livro: O caso dos exploradores de Caverna, que homonimamente explora as alternativas de sobrevivência que temos em casos extremos de risco iminente de morte na própria preservação da vida.

Deixando a filosofia de lado e indo para nossos dilemas atuais de decisões pautadas na ciência e na previsão, ou estimativas de risco, notamos que o alarde dado a partir desses estudos tem sido muito danoso. Temos nos distanciado do real propósito de se fazer estimativas e previsões. Uma previsão de risco é feita principalmente para se buscar e determinar o real preparo antecipado e necessário para evitar o dano estimado, para se planejar as ações preventivas necessárias e para se reduzir o dano ao mínimo aceitável.

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Ainda há que se pensar em como se fazer uma estimativa. Uma boa estimativa ou previsão de risco e dano precisam de um ótimo diagnóstico. Aí então nos deparamos com mais um desafio de grandes proporções. Se estamos falando da economia, os danos sociais são desastrosos nas recessões e a ação dos governos e da própria iniciativa privada se torna fundamental. Neste caso econômico, apesar de louvável e prontamente necessário, ações de cunho assistencial são paliativos temporários. A essência para uma recuperação econômica está nos investimentos necessários para geração de riqueza, e consequentemente, de trabalho, emprego e renda.

Se falarmos das questões ambientais, estas são mais ambivalentes, pois exceto pelos desastres naturais que acontecem de imediato, os demais danos são percebidos lentamente. E, consequentemente as discussões são mais longas e muitas delas infrutíferas e imperceptíveis no curto espaço de tempo.

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E não há uma solução universal, abrangente e completa para cada caso. A novidade e o desconhecimento são naturais e inerentes às novidades. E vemos que de nada se utilizam previsões catastróficas e pouco embasadas sem diagnósticos profundos e extensamente debatidos.

A realidade é que a responsabilidade repousa em cada um de nós da mesma forma e nas mesmas proporções que nas autoridades, sejam elas de saúde ou de governo. Nossa maior coragem deverá ser de tomar decisões de cunho preventivo e protetivo à saúde e à vida, a começar de cada um de nós mesmos.

Muitas vezes na vida, e me parece agora com a pandemia, ficamos presos em um ciclo de respostas. Apagamos incêndios. Lidamos com emergências. Ficamos lidando com um problema após o outro, mas nunca fazemos nosso caminho de volta para consertar os sistemas que causaram os problemas.

Neste momento, e em muitos outros, deveríamos estar buscando resolver problemas antes que eles aconteçam e não simplesmente fazendo estimativas e previsões.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em outubro de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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O primeiro ano do resto de nossas vidas

Foto por Laura Tancredi em Pexels.com

Entramos no segundo semestre de 2021 e como já sabemos, vamos terminar o ano de forma diferente, muito diferente. Com toda essa instabilidade e volatilidade, é impossível prever como serão os últimos meses até o fim deste ano, e mais difícil ainda como será o próximo e os próximos anos de nossas vidas.

Instabilidade costumava ser uma característica do estado ou condição em que as instituições e a ordem política de um país sofriam quando estavam permanentemente ameaçadas; ou ainda falta de solidez da ordem política, social ou econômica. Agora essa instabilidade chegou em nossas vidas diárias. E temos também a volatilidade, que na física é caracterizada pelo elemento que pode passar do estado líquido para o gasoso, mas que na realidade tem um sentido figurado de inconstante, tal como nossa situação atual perante a pandemia.

Enquanto lutamos para nos adaptar a essa nova realidade da vida cotidiana, já há muito tempo nessa nova realidade, vemos a cada dia uma nova síndrome se formar e instalar.

Uma das síndromes mais comuns que vemos é a que chamo de “Síndrome de Pôncio Pilatos”. Conta a história bíblica que o então governador [Pôncio Pilatos] entregou à multidão o dilema de qual dos dois homens deveria deixar livre: Barrabás ou Jesus; e percebendo Pilatos que não conseguia demover o povo [de libertar Barrabás e crucificar Jesus], ao contrário, quando um princípio de tumulto já era visível, ordenou que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante da multidão e exclamou: “Estou inocente do sangue deste homem justo. Esta é uma questão vossa!”

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Desde o início da pandemia temos sempre colocado toda nossa decisão sob a responsabilidade da OMS; e temos visto que a Organização Mundial da Saúde não tem todas as respostas, muito menos todas as respostas corretas. Na sequência, nós mesmos estamos dando nossas próprias opiniões, orientações e definições diferentes a todo o tempo. Mas, afinal, o que fazer? É preciso voltar para as máximas da vida: voltemos para o básico, para o essencial, o fundamental.

Em sua pirâmide, Maslow define cinco categorias de necessidades humanas: fisiológicas, segurança, afeto, estima e as de autorrealização, onde na base se encontram as necessidades mais básicas já que estas estão diretamente relacionadas com a sobrevivência. Estamos vivendo um momento de nos voltarmos para as necessidades básicas [de sobrevivência], fisiológicas e de segurança.

Foto por Guduru Ajay bhargav em Pexels.com

Identificamos como necessidades básicas, fisiológicas, sede, fome e abrigo. Precisamos estar certos de que temos e teremos nesse tempo de pandemia o suficiente, não importa a forma, de alimentos para saciar nossa fome, água para matar nossa sede e abrigo, que representa nossa moradia.

Em seguida temos as necessidades de segurança que a princípio pode nos levar a uma interpretação pura de violência física. Porém, o que precede essa violência física é a violência econômica e social derivadas da pandemia. Essa violência é primariamente relativa à insegurança e a instabilidade no trabalho e o risco de não poder planejar e cuidar do orçamento familiar para atender as necessidades de sede, fome e moradia.

Foto por Ali Arapou011flu em Pexels.com

De um lado temos o eventual extremismo de tomarmos nossas ações sem considerar o entorno, o que pode ser uma atitude inapropriada e inconsequente para nós mesmos e para aqueles que estamos buscando proteger; mas, também, simplesmente tomar uma atitude de acreditar que podemos sempre lavar nossas mãos como Pilatos, atribuindo a responsabilidade das consequências a uma ou outra organização nos parece o outro lado extremista.

Nitidamente buscar o equilíbrio em meio a pandemia tem sido um dos maiores desafios nestes tempos de reclusão e isolamento. Saber seguir as orientações com discernimento e cuidado, sem exageros e com clareza, sem perder o propósito principal, que é a preservação da vida.

Afinal, este é o primeiro ano do resto de nossas vidas, que já tem sido e será sempre muito diferente de qualquer imaginação que possamos ter tido anteriormente.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em julho de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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O dia depois de amanhã

Foto por Chris Czermak em Pexels.com

Como seria bom se pudéssemos ler o jornal de depois de amanhã.

Todas essas dúvidas incessantes de como será nosso dia a dia depois da pandemia estariam esclarecidas. Mas nem nós e, me parece ninguém, tem essa prerrogativa: a de saber o futuro. Podemos sim trabalhar com expectativas e hipóteses, mas somente para tratar o hoje com vistas a amenizar o amanhã.

Todas as grandes empresas estão fazendo previsões sobre como serão os negócios no futuro pós-pandemia, um futuro, inclusive, que já tem sido chamado de novo normal.

Dentre as grandes auditorias, uma delas, a PwC, tem publicado e atualizado rotineiramente uma pesquisa americana e global, denominada “COVID-19 Pulse reports”. Buscando alguma convergência de expectativas, na pesquisa publicada já há 1 ano, que neste momento pode até estar um pouco ultrapassada devido a dinâmica do momento, tivemos quatro grandes tópicos que se destacaram:

  • O descritivo da rotina de volta ao trabalho deve redesenhar como as tarefas serão feitas; isso pois quase a metade dos pesquisados (49%) disseram que o trabalho remoto está aqui para ficar para certas funções. Consequentemente, as empresas já estão reconfigurando o ambiente de trabalho;
  • Proteger a saúde das pessoas deveria e tem estado no topo; uma grande maioria (77%) planejou e tem adotado medidas de segurança [de saúde]: testes [exames de saúde] tem ocorrido frequentemente e ainda se espera um aumento nos pedidos de ausência por doença e outras razões;
  • Impactos substantivos [significativos] eram esperados nos resultados de 2020, e aconteceram; entretanto, um pouco diferente pois houve um efeito grande nas economias pelos incentivos governamentais direto ao cidadão;
  • As pressões de custos deveriam se intensificar; as demissões que ocorreram já estão se revertendo e o controle de custos tem ocorrido, mas muitos investimentos planejados têm sido mantidos.

Enquanto todas essas expectativas são confirmadas, ou não, ao longo do tempo conforme o retorno ao trabalho se desenrola, temos algumas percepções mais tangíveis e mais próximas de nós nesse momento. O que devemos notar conforme voltamos ao trabalho são substancialmente decorrentes de alguns fatores típicos e simples do nosso dia a dia, como segue:

Foto por Ian Beckley em Pexels.com
  • Ida [e volta] ao trabalho e demais lugares: um dos primeiros movimentos que veremos a nossa volta será derivado da própria e real ida e vinda do trabalho – mesmo que tenhamos tido muito trabalho remoto ao longo dessa reclusão, certamente uma grande maioria tanto estará ansiosa como, de fato, precisará retornar presencialmente ao seu trabalho para desempenhar suas funções. E isso causará, e de fato está causando, um certo alvoroço tanto no transporte público como em todo o trânsito das cidades;
  • Nossa aparência: conforme retomamos nossas atividades em público, fora de nossas casas e de nosso conforto e discrição, nossa aparência novamente será notada. E certamente essa necessidade irá muito além do mero corte de cabelo. Teremos novo comportamento associado ao uso de s máscaras, ao distanciamento físico, tanto social como profissional, e entraremos em um novo processo de retomada de consumo – o comercio deverá ser muito beneficiado pelo retorno ao trabalho;
  • A reconfiguração dos locais não somente de trabalho, mas também de compras e entretenimento; as rotinas de abertura e fechamento, bem como o uso diário dos espaços nos restaurantes, nas lojas, nos escritórios e nas fábricas, mesmo aquelas que permaneceram produzindo, já terão uma nova realidade. A própria limpeza e compartilhamento dos lugares estão sendo revistos e repensados.

Como conselheiros, executivos e dirigentes de empresas podemos pensar estrategicamente o dia seguinte na retomada e reabertura das atividades. Mas como cidadãos veremos diariamente as consequências diretas na nossa vida individual e coletiva, tanto familiar como social e profissional, de uma retomada das atividades depois um período de reclusão sem precedentes na história recente da humanidade.

E de fato ainda saberemos como será o dia depois de amanhã!!!

E nesse tempo de retomada notaremos que todos nós mudamos, e muito, e ainda teremos que continuar mudando, para sobrevivermos.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em junho de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Eficiência, eficácia, efetividade… tudo em falta

O Brasil é famoso por muitas coisas boas, apesar de quase nunca percebermos. Não é de hoje, por exemplo, que a qualidade dos aviões produzidos no país se admira. Mesmo assim, as ações [os valores mobiliários] da Embraer nunca se tornaram um marco no Ibovespa, nem uma das preferidas dos investidores.IMG_0059

Se tomarmos os últimos cinco anos como base, o valor da ação (o ADR) da Embraer na NYSE (Bolsa de New York), nunca decolou. E temos que lembrar que essa empresa é multinacional, vende a maior parte para o mundo, então, uma crise local brasileira não deveria afetar seus negócios.IMG_0058

Enquanto isso, uma empresa como a Boeing que em faturamento tem um tamanho em torno de 20 vezes a Embraer é certamente muito, muito mais complexa de se administrar, de se fazer sua gestão. E não basta dizer que no Brasil é mais difícil, que a economia não vai bem ou que os impostos são altos. Produzir e vender aviões é um negócio mundial feito em dólares norte-americanos.

Em artigo no Valor Econômico publicado há algum tempo, a avaliação de Mark Dutz, economista do Banco Mundial, e Sergio Firpo, professor do Insper, chama muito nossa atenção: “O grande número de empresas mal administradas no Brasil limita o crescimento da produtividade do país”. Então, nossa observação acima não é de um caso isolado, pois nos leva a notar que temos um desafio nacional e não apenas localizado em algumas empresas. O artigo cita ainda que em uma metodologia do próprio Banco Mundial, 18% das companhias no Brasil são consideradas mal geridas, percentual acima de países como China e México. Nos Estados Unidos, esse número é de apenas 2%.

O artigo cita ainda que a observação do economista Mark Dutz “é que no coração da baixa produtividade brasileira estão políticas que reduzem a concorrência … como exemplos, subsídios específicos concedidos pelo governo federal e a política de campeões nacionais.” Enquanto nos EUA os campeões são desafiados por seu poder exagerado, aqui no Brasil precisamos do governo para gerar campeões nacionais setoriais.

Há tempos também se discute a ineficiência produtiva nacional. Várias formas de se ver e analisar essa eficiência têm surgido seja por meio de comparação e, muitas vezes, por meio de atribuição de culpa, de responsabilidade a alguns fatores sobre os quais não temos controle, nem mesmo o governo muitas vezes o tem.IMG_0060

E ainda temos a maior necessidade da efetividade [ser eficaz] daquilo que fazemos, pois aí está um grande desafio de todos nós. Ser efetivo é ser bem-sucedido naquilo que se propôs, ter sucesso na produção de um resultado desejado ou pretendido. Vale lembrar que em português também usamos a palavra “eficaz” com o mesmo significado de efetivo! Por outro lado, notamos que ser eficiente é desenvolver alguma coisa, trabalho ou tarefa, de modo correto e sem erros, obtendo um ótimo resultado, atingindo a produtividade máxima com o mínimo esforço.IMG_0057

E nossos desafios não param. Para Henry Mintzberg, um estudioso do tema Gestão, há uma distorção na percepção do que é liderança e do que é gestão. Ele descreve a gestão como um conjunto de atividades orientadas para a ação e menciona que atualmente deixamos que a liderança se tornasse mais importante do que a gestão. Inclusive, na opinião dele, nossa atividade como gerente em uma organização, em uma empresa, é muito mais determinada pelo tipo de organização em que estamos e menos pelo nosso país.

O que temos visto no Brasil é que tem se feito muito esforço de forma coletiva, mas os resultados coletivos ainda são muito esparsos. Há um grande desencontro de informações. Os investidores dizem que há muito recurso e poucas oportunidades. Por outro lado, o povo de forma geral tem visto exatamente o contrário, em que concretamente há pouquíssimas oportunidades de trabalho.

Algumas premissas óbvias têm sido deixadas de lado. Com tanta escassez de oportunidade de trabalho e renda, e com índices de desemprego alto, não há oportunidade que prospere. Enquanto os investimentos não forem dirigidos para oportunidades em que o beneficiário final seja a população, essa recuperação não desencadeia.E eff 2

Certamente que muitas iniciativas de startups, empreendedorismo e investimentos de fundos privados de risco são louváveis, mas se essas iniciativas de início apenas promovem uma troca de opções e não um incremento real produtivo, de riqueza, a desejada recuperação não ganha força.

E a geração de riqueza só acontece como consequência do trabalho, da produção de algo com o tempo que temos. Com as horas que temos disponíveis, todos nós indistintamente, diariamente, se somos produtivos então geramos riqueza. Precisamos ser produtivos de forma eficiente e acima de tudo, efetivos.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em maio de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Brumadinho, Mariana e outros [pandemia] desastres

pandemia 1Há bem pouco tempo vimos mais uma catástrofe acontecer, um desastre de proporções inimagináveis, que foi o rompimento da barragem que devastou Brumadinho e toda região. Não muito antes, apenas três anos, vimos algo também catastrófico, o rompimento da barragem de Mariana.

Neste momento estamos vivendo uma inédita pandemia sem precedentes e sem expectativa de data para acabar!

Não faltam razões, explicações e ponderações para esses acontecimentos. Não falta disposição de todos em ajudar no resgate das vítimas e, além disso, no diagnóstico e nos reparos, físicos, emocionais e financeiros que serão necessários. Também sobram acusações para todos os lados, atingindo toda sorte de pessoas, empresas, organizações e entidades das mais variadas naturezas.

Mas nos parece que ainda falta a assunção prévia de responsabilidade por aquilo que fazemos ou deixamos de fazer e pelas entidades que representamos. Ainda podemos ser melhores cidadãos em cada um dos papéis que exercemos, não importando se representamos a nós mesmos, uma empresa privada, uma organização não governamental ou mesmo um órgão do governo de forma geral.  Onde quer que estejamos temos responsabilidades por aquilo que fazemos.

pandemia 3Também não faltam ferramentas para gestão empresarial e, principalmente, para gestão do risco empresarial, o chamado ERM, do inglês “Enterprise Risk Management”. Nesse tema, as normas da família ISO 31000 têm como foco a gestão de risco.

Publicada pela ISO (Organização Internacional de Normalização, em inglês International Organization for Standardization), em 2009, a família ISO 31000 é um conjunto de normas-guias, que trazem informações e recomendações para orientar aqueles que querem implementá-la e procuram fornecer informações básicas para todos os tipos de gestão de risco. As ISO 31000 têm como objetivo fazer com que a organização tenha noções de gestão de risco. Ou seja, gestão prévia, antecipada, de possíveis crises e, obviamente, caso aconteça alguma situação de crise, como gerir as consequências com o menor prejuízo possível.pandemia 4

Uma análise tradicional define risco como uma função de probabilidade e impacto. No entanto, eventos improváveis ocorrem com muita frequência e muitos eventos prováveis não acontecem. Pior, eventos improváveis geralmente ocorrem com uma velocidade surpreendente. A probabilidade e o impacto por si só não refletem todo o quadro. Para tanto é necessário avaliar a vulnerabilidade e a velocidade de início. Medindo quão vulnerável se é a um evento, pode-se desenvolver uma visão das necessidades. Medindo-se a rapidez com que isso pode acontecer, se entende a necessidade de agilidade e rapidez de adaptação, de resposta.

Mas todas essas considerações são muito técnicas e necessitam da iniciativa e respaldo humano dos dirigentes das organizações. Nenhuma dessas considerações técnicas serão efetivas, nem surtirão resultado, se não tivermos dirigentes respaldando ações de prevenção, detecção e correção dos processos associados à gestão dos riscos empresariais.

Em seu livro “O Poder do Hábito”, Charles Duhigg, entre os vários assuntos ali tratados, discorre sobre os acontecimentos históricos na multinacional Alcoa. O que nos chama a atenção nesse acontecimento é o comportamento do recém-empossado presidente da empresa, Paul O´Neill, em seu 1º discurso para os analistas em 1987. Havia uma grande apreensão de todos já que o novo diretor executivo seria um ex-burocrata do governo, com postura que lembrava a de um militar. E então ele fez seu discurso, que reproduzimos a seguir em partes (deixo o todo desse discurso e deste capítulo em suspense):

            “…Quero falar com vocês sobre segurança no trabalho …Todo ano, vários funcionários da Alcoa sofrem ferimentos tão graves que perdem um dia de trabalho… Nosso histórico de segurança é melhor do que a média da mão de obra americana … Mas ainda não é suficiente … Minha meta é um índice zero de acidentes.”

A plateia ficou confusa. O tempo passou e quando O´Neill se aposentou, 13 anos depois da sua posse, no ano 2000, o faturamento da empresa era cinco vezes maior do que antes de ele chegar, bem como o valor de mercado que também se multiplicou. Todo esse crescimento aconteceu enquanto a Alcoa se tornava uma das empresas mais seguras do mundo.

Naquela época não tínhamos a ISO 31000, nem os conceitos e publicações sobre ERM (Gestão de Risco Empresarial) tão estudados e amadurecidos para suportar todo o processo de gestão de risco na Alcoa. Mas, acima de tudo, o que se teve ali foi a iniciativa e respaldo humano do dirigente por aquilo que ele assumia como responsável a partir daquele momento. São conceitos primários, fundamentais, de gestão que ouvimos a todo tempo e precisamos praticar ainda mais. pandemia 2Conceitos propagados a todo o tempo a partir dos termos em inglês: “ownership” que significa propriedade, o ato, ou fato de se tomar proprietário de algo; e “accountability” que quer dizer responsabilidade ou o fato de ser responsável pelo que se faz [ou se deixa de fazer] e a capacidade de se dar razão satisfatória para os próprios atos.

Portanto, nenhuma dessas considerações técnicas (necessárias para o processo investigatório) serão efetivas, nem surtirão efeito se não tivermos dos dirigentes principais demanda e respaldo por ações contínuas de prevenção, detecção e correção dos processos empresariais, associados a gestão dos riscos.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em abril de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Pela transparência e, acima de tudo, pelo controle das contas públicas

Temos visto uma avalanche de novas informações a todo o tempo sobre as contas públicas, muitas delas nos surpreende pois não conhecíamos e nem sabíamos como ter acesso. Temos até uma nova expressão para tudo que não sabemos sobre as contas públicas: “vamos abrir a caixa preta “, em alusão a famosa caixa preta dos aviões que grava toda informação de voo e, para matar a curiosidade de todos, não é preta!2020-03-29 (5)

Temos notado também que há uma grande variedade de empresas, ou melhor, entidades que permanecem nesse intervalo entre puramente pública e puramente privada; são entidades em muitos casos de natureza jurídica privada, mas de caráter público, pois gerem, fazem a gestão de bem público. E aqui de início pensamos apenas em dinheiro, derivado dos impostos que pagamos, mas temos muitos outros bens públicos sendo geridos continuamente por entidades públicas por inteiro e até por entidades privadas.

Então, por qual razão chegamos a esse ponto de tanta caixa preta em todo o sistema de gestão do bem público? Certamente, pela falta de uma série de ferramentas de gestão, muitas delas carimbadas de governança já que assim têm um charme maior, que não têm sido aplicadas de forma abrangente, contínua e recorrente.

A começar pela mais óbvia de todas, a contabilidade!2020-03-29 (7)

A contabilidade foi concebida por um frei da igreja católica para o registro e controle das arrecadações, dos dispêndios, obviamente, e do patrimônio. Desde então a contabilidade evoluiu muito, muito mesmo. Hoje já temos o conceito da contabilidade para o setor público, as chamadas IPSAS.

O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) disponibilizou, na íntegra, as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (International Public Sector Accounting Standards – IPSAS), editadas pela Federação Internacional de Contadores (International Federation of Accountants – IFAC), que foram traduzidas para o português em junho de 2012. Isso mesmo, 2012! As IPSAS são as normas internacionais, em níveis globais, de alta qualidade para a preparação de demonstrações contábeis por entidades do setor público.

2020-03-29 (6)Com a edição IPSAS traduzidas, a contabilidade pública brasileira dá (pode dar) um passo importante no sentido da sua normatização contábil. Em decorrência dessa nova visão, a contabilidade no setor público pode ocupar-se, como sempre deveria ter feito, do registro e da apreciação dos fluxos econômicos bem como do desempenho da gestão e da respectiva situação financeira e patrimonial, e ainda possibilitar transparência a toda a população.

Recentemente, o CRCSP tratou do assunto em um artigo que destaca: ”Assim como o profissional da contabilidade auxilia os gestores da área privada fornecendo dados que contribuem para a tomada de decisões, ele pode [e deve] contribuir para a transparência no setor público elaborando relatórios em linguagem simples e objetiva, assegurando que as informações seja compreendidas pelos cidadãos sem formação na área contábil.”

Quem não gostaria de abrir uma página de internet de uma cidade, um estado, ou do governo federal e encontrar ali um relatório contábil, financeiro, econômico e patrimonial, pronto e compreensível?

E vamos além! Não é somente a contabilidade que se modernizou e provê regras para o setor público poder “abrir sua caixa preta” de forma transparente. As auditorias externas independentes também evoluíram e estão preparadas para auditar esses demonstrativos. E se pensamos que essa hipótese e possibilidade poderia ser ficção, melhor verificarmos na própria página do governo federal americano. Está lá o demonstrativo anual das contas do governo com o respectivo relatório de auditoria. Qualquer um de nós pode consultar.

Inclusive a Lei das Sociedades por Ações, atualizada em 2007, requer divulgação desses demonstrativos, auditados, de entidades privadas de grande porte, com faturamento maior que R$ 300 milhões por ano. E o que temos visto nesses dez anos, é muito mais uma guerra jurídica pelo “não” fazer do que uma busca pelo “sim, vamos fazer e fazer da melhor forma”!anefac

Não faltam ferramentas de gestão apropriadas para “abrirmos a caixa preta” de várias entidades governamentais. O controle, a gestão, a auditoria e a transparência das contas públicas é um caminho único e necessário, em uma só direção, e deve ser buscado e trilhado tanto pelo gestor público como privado, continuamente.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em março de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Qual é a nossa próxima onda?

medina 1Já há algum tempo vimos o Gabriel Medina conquistar seu segundo título de campeão mundial de surfe. Ele comemorou segurando uma bandeira brasileira enquanto era levantado e saudado por seus fãs. Medina já havia vencido a competição em 2014, foi o primeiro brasileiro a conquistar o título, e nesses anos interinos, esteve sempre em ótima posição. Há pouco tempo, entre nossa 1ª, e esta 2ª versão deste artigo, vimos Guilherme Benchimol celebrar a abertura de capital da XP Inc. na Nasdaq em Nova York saudando os investidores com uma bandeira brasileira sobre seus ombros!

Em algumas das várias reportagens sobre essa conquista, do Medina, se reputa a ele um grande trunfo, a “regularidade”. Característica não muito presente em nossa cultura, mas de extrema relevância pois propicia grande segurança na conquista dos objetivos pretendidos. Temos certeza de que com Benchimol nas suas conquistas, tem sido da mesma forma, muita regularidade.xp-investimentos

E enquanto o Medina conquistava seu segundo título em 2018, nosso Brasil se preparava para uma nova onda de recuperação que já começou. Sob novo governo, o Brasil se prepara e busca uma nova onda de recuperação e crescimento econômico, após uma crise que muitos consideram sem precedentes. Essa fama de “crise sem precedentes” somente confirma nossa memória curta, pois antes dessa, a crise que tivemos prestes ao Plano Real também foi “sem precedentes”, e antes dela outras que já nos lembramos mais.

Em 2009, Fabio Giambiagi e Octavio de Barros organizaram um livro- coletânea, intitulado Brasil Pós-Crise, Agenda para Próxima Década. Diferentemente de Medina que conquistou seu segundo título após quatro anos, me parece que o Brasil tomou um tombo na 2ª onda no meio dessa década. Enquanto os Estados Unidos completam 10 anos após a crise de 2008/09 em um momento raro de riqueza e prosperidade, nós no Brasil estamos paupérrimos e buscando um recomeço.

Também há dez anos, a Fundação Dom Cabral lançava o livro “A Ascenção das Multinacionais Brasileiras” (em inglês: “The Rise of Brazilian Multinationals”), coordenado pelos editores Jase Ramsey e André Almeida. Com raras exceções, a maioria dessas empresas brasileiras pesos-pesados que seriam as candidatas a multinacionais, se viram envolvidas nesses 10 anos em fraudes e corrupções, públicas e privadas, de toda sorte e natureza.

Parece que não estamos preparados para as ondas de oportunidades que temos tido e sucumbimos no meio delas de forma visceral. Precisamos sair desse círculo vicioso e buscar um círculo virtuoso neste novo momento de oportunidade que se apresenta diante de nós. Precisamos pegar e nos manter no topo dessa nova onda que surge partindo para uma conquista real e verdadeira. Essa oportunidade está nas mãos de cada um dos brasileiros, empregados, empregadores, empreendedores, dirigentes de empresas, e todos nós. O governo e suas atitudes são muito relevantes, mas são um meio, não um fim em si mesmo. A conquista é e deve ser de cada um.

Em meio a essa década quase perdida desde 2008, as exceções de grandes empresas e empresários que vimos prosperar são poucas, mas louváveis e nos ensinam muito. Impossível não mencionar o grupo mundial ABInBev controlado e dirigido por brasileiros admirados e respeitados mundialmente e que há mais de uma década vinham sendo atacados pela mídia por seus métodos extremamente pragmáticos e objetivos. Ainda enquanto essa crise se formava e tomava o país, um empresário brasileiro também atingiu seu ápice demonstrando sua habilidade de pegar a onda certa não importando o clima em sua volta. Carlos Wizard Martins, consolidou e vendeu a rede de escolas Wizard em 2013 e hoje está de volta ao mercado com vários novos empreendimentos.

Gabriel Medina conquistou seu 2º título da mesma forma enfrentando ondas desafiadoras no mundo todo, em oposição a ficar somente pegando onda no litoral brasileiro. Como cita o artigo, Medina teve regularidade no seu desempenho e venceu, não importando como a onda viesse, e se podemos dizer que se há algo irregular na natureza, esse algo são as ondas do mar! Ter regularidade sobre a irregularidade das ondas, é disso que precisamos no Brasil.xp-investimentos 2

Precisamos que nessa nova onda de oportunidades os empresários e empreendedores brasileiros sejam cada vez mais regulares, cresçam e apareçam no cenário brasileiro e internacional, de forma a se tornarem exemplos admirados e que outros se inspirem e venham buscar o mesmo. Precisamos assumir a responsabilidade de sermos exemplos desse sucesso que o Brasil tanto deseja.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em fevereiro de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Conhecimento, Cultura e Estilo, Gestão empresarial, Gestão pessoal, Governança

Por que uma empresa não decola

IcebergA todo tempo os investidores, sejam eles individuais ou coletivos, amadores ou profissionais, de risco ou não, estão buscando startups e empresas em operação para colocar seus recursos financeiros na expectativa de retorno, certamente, financeiro.

Desde o cidadão mais comum até o investidor sofisticado, cada um de alguma forma tem seu critério para analisar uma empresa seja em crescimento, valor, dividendos, ou mesmo em recuperação e, portanto, de alto risco e alto potencial de retorno. Mas alguns elementos em qualquer uma dessas empresas são fundamentais para que qualquer uma delas se estabeleça (portanto uma startup), cresça e então permaneça sólida e dando resultados.

Para início de análise, qualquer empresa estabelecida e, principalmente uma startup, precisa do conceito chamado “addressable market” que significa mercado endereçável, mercado-alvo ou mercado disponível e até mesmo mercado atingível. Esse conceito, a princípio, considera o mercado total atingível pelo produto ou serviço, em uma hipótese sem competição ou concorrência.

Sem um mercado-alvo, não há empresa que sobreviva, nem startup que se desenvolva e cresça. O mercado endereçável mostra a escala potencial do mercado, do negócio. Identificar a existência e estimar o mercado potencial são os primeiros passos para os empreendedores iniciarem seus negócios. Muitas empresas não decolam e outras sucumbem por não atentarem para esse princípio fundamental e que evolui constantemente.

Para ilustrarmos esse conceito tomemos como base um livro escrito em um certo idioma. Enquanto esse livro não for traduzido para outros idiomas seu mercado-alvo serão apenas as pessoas fluentes naquele idioma (claro que aqui não vamos entrar em outros detalhes). Muitas empresas também não têm tão claro seu mercado-alvo e, por isso, não decolam nem se consolidam.

Na sequência temos o conceito chamado “economic moat”, “fosso econômico” numa tradução livre, que podemos também chamar de barreira econômica ou, no conceito de Porter, barreira de entrada. Aparentemente, esse conceito do fosso econômico vem de Warren Buffett, um dos investidores de maior sucesso no mundo. O termo refere-se à capacidade de uma empresa de manter uma vantagem competitiva sobre os seus rivais e, assim, proteger a sua rentabilidade e participação de mercado a longo prazo. Assim como um castelo medieval, o fosso serve para proteger aqueles dentro da fortaleza e suas riquezas de forasteiros.

CastleEssa barreira econômica é construída ao longo do tempo. Mesmo que se tenha um diferencial imediato nos produtos ou serviços, uma empresa não tem de imediato, de forma visível e ampla, como essa barreira vai realmente beneficiar seus negócios.

Um dos melhores exemplos atualmente desse conceito é a Amazon, que construiu sua barreira, seu fosso, ao longo de vários anos. Embora o setor de Varejo esteja repleto de concorrência, o fosso que o e-commerce e o web-service que a gigante Amazon.com tem construído ao longo do tempo vai ser quase impossível de se superar. O segredo (não de fato pois todos sabem) da Amazon para o sucesso inclui, principalmente, o seu sistema de distribuição intrincado e de razoavelmente baixo-custo. O que isso finalmente significa é a capacidade de redução do preço de praticamente qualquer produto em relação ao varejista tradicional.

Mas nem mercado potencial nem barreira de entrada são suficientes para qualquer empresa sem “leadership”, seja a liderança do idealizador, do fundador ou de seu principal executivo. Não importam as circunstâncias, a liderança de um negócio é imprescindível seja no seu início, desenvolvimento, crescimento, estabilização ou valorização. Assegurar a identificação e a escolha do mercado potencial correto e apropriado, além de construir as barreiras de entrada continuamente ao longo do tempo, é tarefa da liderança.

Não faltam exemplos da importância da liderança para um empresa. A Dell estava prestes a sucumbir e seu fundador teve que voltar para recuperá-la. Mais emblemático ainda é o caso recente de Jack Dorsey, um dos criadores do Twitter e também do Square. Depois de algum tempo fora da posição de presidente executivo (CEO) do Twitter, em 2015 ele voltou para recuperá-lo.

Nos últimos três anos ele tem atuado como CEO das duas companhias, Twitter e Square, abertas com ações na Bolsa de Valores. Nesse período, o Twitter teve um período muito difícil, mas Dorsey conseguiu restabelecer os negócios de tal forma a ponto de começar a gerar resultados (lucros) trimestrais e o valor da ação subiu perto de 50% da época de seu retorno. Ao mesmo tempo, a receita do Square triplicou e o valor da ação quadruplicou. Não há dúvidas da importância da liderança em uma empresa, qualquer que seja.

round tableNos dois casos, do Twitter e do Square, o sucesso de ambos somente acontece pois a liderança tem sido capaz de lidar com esmero, cuidado e habilidade os temas de mercado potencial e barreira de entrada. A todo tempo, a liderança de uma empresa precisa sempre ter claro e atualizado qual seu mercado potencial (endereçável, atingível) e estar continuamente construindo sua barreira de entrada, seu fosso econômico, para assegurar sua valorização e perenidade no longo prazo.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em setembro de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Conformidade, Conhecimento, Cultura e Estilo, Gestão empresarial, Gestão pessoal

Complacência: chega de tudo bem!

Já há algum tempo fomos tomados por uma greve que teve proporções amplas. Uma vez que os caminhoneiros pararam, toda movimentação foi afetada – desde aquilo que eles transportavam até a própria movimentação das pessoas já que o combustível não sendo entregue, nenhuma movimentação seria possível acontecer.

Cada um de nós tem sua própria opinião sobre o acontecido e a forma como se deu. Certamente não concordaremos em nossas opiniões, o que é muito bom, já que a discordância leva a uma revisão da situação e, esperamos, a uma melhoria das circunstâncias.

Que precisamos de melhorias, aliás, é onde podemos buscar concordância. O preço do litro de combustível é apenas a ponta do iceberg, o termômetro. Precisamos rapidamente conter a febre, mas não podemos deixar que a causa, a origem ou ainda, aquilo que está instalado no mais profundo do nosso sistema, permaneça.

Há alguns anos, uma propaganda se valia do slogan: “chega de tudo bem”. Não podemos mais aceitar 99% e permanecer com os problemas quase resolvidos, ou com os objetivos quase atingidos. Precisamos ajustar as origens dos problemas para que eles sejam resolvidos e não se repitam, e mais: que os objetivos sejam alcançados na sua plenitude.

Mais recentemente, o autor Marcos Scaldelai se valeu do título: Você pode mais! 99% não é 100%. No livro, ele defende com propriedade essa proposta de atingirmos 100% naquilo que nos propomos. E vai além, diz que ser 100% só depende de cada um de nós. Enquanto muitos se satisfazem ao atingir 99,9% dos resultados [dos objetivos], quem realmente se destaca não se conforma. E acredito, busca realmente 100% naquilo que se propõe.

Não faltam exemplos no nosso dia a dia para confirmarmos que estamos sempre, infelizmente, quase lá! De várias formas temos tido como temas principais para a melhoria do nosso país, os temas de educação, saúde e segurança. Quantas e quantas vezes vemos situações em cada um desses três temas em que poderíamos ser 100% e não chegamos lá.credito

Por outro lado, não faltam análises de gente experiente e sábia sobre como superar essas dificuldades, seja o coletivo do ambiente brasileiro ou no individual. Mas se há tantas análises e sugestões, o que então nos impede de mudar a situação, de sermos 100%, mesmo que seja em alguns aspectos vitais de cada um desses temas de tanta importância?

Outros autores têm discutido a atuação do governo em medidas mais diretas na economia para que o Brasil possa crescer. No livro Complacência, os autores Fabio Giambiagi e Alexandre Schwartsman demandam medidas mais incisivas por parte do governo em relação aos determinantes de crescimento da economia brasileira, em um contexto em que o espaço para crescimento a partir de estímulos [que tem sido a tônica há muito tempo] à demanda tende a se esgotar. A crítica se direciona à falta de medidas mais profundas relacionadas com a necessidade de melhorar a educação, estimular os investimentos em infraestrutura, elevar a poupança doméstica e melhorar os indicadores de produtividade.

Em um dos vários temas abordados, os autores dão título a um capítulo de “Poucos Bernardinhos”. De certa forma, essa crítica se conjuga com a visão do outro autor de que devemos buscar sermos 100% e não apenas 99%. Bernardinho, em sua trajetória, não se viu limitado pelas condições circundantes e nem passou a explicar os 99% como sendo algo satisfatório. Ele buscou e atingiu 100% naquilo que se propôs. Talvez, sim, precisamos de mais Bernardinhos.20180723170914_1200_675_-_whatsapp

Desta vez, não somente de caráter nacional e de visibilidade ampla. Precisamos de mais Bernardinhos em cada uma de nossas famílias, em nossas comunidades, nossas associações ou nossas empresas. Precisamos de gente que não mais aceite no nosso dia a dia 99% e diga: chega de tudo bem!

Quando algo não está como esperado, que tenhamos esses Bernardinhos em alerta ao nosso redor para dizer “não” e não aceitar algo quase lá e incompleto, e aprendermos. Precisamos aprender a não nos satisfazer simplesmente com o esforço, a dar um basta no “tudo bem”, em ser aquele que aceita os 99%, mas sim, sermos cada um de nós um Bernardinho na busca do 100%.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em julho de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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