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A cidade do futuro. Ou do presente!

Já há algum tempo, uma escola de negócios na Europa, o IMD (Institute for Management Development) publicou em sua página, um índice: de pesquisa e conhecimento, o “IMD Smart City Index 2019”.

O IMD, em parceria com a Universidade de Tecnologia e Design de Cingapura, apresentou em 2019 a primeira edição do IMD Smart City Index com 102 cidades em todo o mundo. Ser uma cidade “inteligente” reconhecida globalmente pode se tornar fundamental para a atração de investimentos e talentos, criando um potencial “ciclo virtuoso”.

Até o momento, este parece ser o único índice global dessa natureza, que se concentra exclusivamente em como os cidadãos percebem o alcance e o impacto dos esforços para tornar suas cidades inteligentes, equilibrando aspectos econômicos e tecnológicos com dimensões humanas.

Já há algum tempo também se viu no Brasil uma discussão, liderada pela CPFL Energia, sobre a cidade do futuro, mais especificamente, “A Energia na Cidade do Futuro”; subsidiada por uma discussão detalhada de nove temas que deverão impactar a cidade do futuro, mais especificamente no setor elétrico. Naquele momento já se via o que hoje tem sido tão fortemente discutido, sobre o que será mais importante para o cidadão: a consciência ecológica universal de preservação do planeta ou o anseio por mais conforto e bem-estar individual? Notamos que certamente a busca do equilíbrio tem sido e deve ser a tônica neste tópico!

O que se nota logo no início dessa discussão, chamada de Visão 2030, é que as atividades econômicas, sociais e mesmo ambientais estão intimamente conectadas com a energia e suas fontes naturais. Elas possuem a energia nas suas mais diversas formas, como um instrumento básico de existência e subsistência. E, além disso, há uma relação direta entre o desenvolvimento econômico e os benefícios sociais derivados, e o consumo de energia, o tempo todo. Desta forma, a garantia do suprimento energético, de forma sustentável preferencialmente, se torna fundamental para qualquer discussão sobre a cidade inteligente, seja do futuro ou mesmo do presente momento.

Enquanto isso, a preparação do índice de cidades inteligentes promovido pelo IMD está baseada em dois pilares para os quais as percepções dos moradores são solicitadas: o pilar Estruturas, que se refere à infraestrutura existente das cidades e o pilar Tecnologia, que descreve as provisões e serviços tecnológicos disponíveis para os habitantes.

Na análise detalhada da cidade do futuro, “Visão 2030”, já no primeiro capítulo temos a discussão sobre a gestão da infraestrutura urbana. Esses temas são intrínsecos e codependentes, pois uma cidade para ser inteligente precisa desse pilar de infraestrutura e a ela acoplada, a tecnologia; mas nem a infraestrutura geral e muito menos a tecnologia funcionam e não funcionarão na cidade inteligente sem a infraestrutura específica de “energia”!

A cidade do futuro, ou mesmo do presente, tende a ser algo como um organismo vivo. Seu crescimento decorre dos usos e costumes de seus habitantes, muitas vezes até de usos impensados e até impróprios. O futuro de uma cidade decorre dessas forças naturais de seus habitantes e seus usos, da visão individual e coletiva da sociedade e suas demandas e, acima de tudo, do poder público e como esse poder interage com as reais necessidades presentes e futuras dessa cidade. Qualquer que seja a visão de uma cidade inteligente, do presente ou do futuro, essa visão somente se materializará de forma gradual e contínua, pela evolução dos processos urbanos.

O poder público eleito tem em suas mãos os vetores de influência e condução dos caminhos que uma cidade pode percorrer na melhoria de sua infraestrutura e tecnologia para sua população. E para que essa melhoria aconteça, é necessário se percorrer um caminho contínuo pois a construção das mudanças é gradual e as mudanças serão absorvidas pelas pessoas em diferentes etapas de sua vida. Da mesma forma, o poder público tem uma responsabilidade de continuidade e persistência na construção contínua dessa melhoria, mesmo nos momentos de sucessão e troca do Executivo e Legislativo de cada cidade.

O índice de cidades inteligentes foi criado baseado em dois pilares, Infraestrutura e Tecnologia e, acima de tudo, o quanto esses dois pilares propiciam benefícios reais à população na sua vida diária. Quanto a infraestrutura, devemos lembrar de alguns componentes que são vitais no nosso dia a dia, tais como água e esgoto, energia elétrica e gás, algumas vezes encanado ou entregue regularmente em nossas casas, e a estrutura viária de ruas e avenidas e principalmente o transporte urbano. Quanto a tecnologia, ainda vemos concretamente muito pouco apesar dos enormes alardes da mídia em geral. A tecnologia tem sido usada para gerir os ativos de infraestrutura e para nos dar como cidadãos muita informação, serviços e lazer.

Talvez com o advento do 5G teremos uma nova onda maior da chamada tecnologia (realmente) embarcada, mas esse tema fica para outro dia!

Nosso país tem os elementos essenciais para a prosperidade. Ainda estamos bem distantes e estamos em poucos e muitas vezes mal colocados (ranqueados) em vários índices tais como de competitividade global e agora de cidades inteligentes – apenas São Paulo e Rio de Janeiro entraram nesse índice. É certo que muitas cidades desse índice são pequenas e médias, certamente sendo muito mais fácil se tornarem inteligentes. Mas isso deve então ser um alento de que muitas das nossas cidades médias poderiam sair na frente e se tornarem cidades inteligentes, exemplo para as demais.

O que nos chama a atenção é que a necessidade de se pensar a cidade do futuro, a cidade inteligente, é imediata – precisamos pensar na cidade do futuro de forma inteligente para termos uma cidade inteligente, na infraestrutura e na tecnologia, em prol da sua população, com benefícios reais de melhoria de condições de vida. A cidade inteligente deve propiciar ao cidadão condições essenciais de educação, saúde e segurança, elementos vitais para o bem-estar social e econômico, o que certamente promoverá um círculo virtuoso econômico e próspero.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em janeiro de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A nova onda ambiental no mundo

Já há algum tempo, e mais recentemente por toda parte, há uma crescente demanda por uma nova onda de proteção ambiental. Lidar com o assunto (ou tema), seja nos âmbitos global, nacional, local, pessoal e até mesmo empresarial não é uma tarefa fácil.

Discutir o futuro ambiental do planeta tende a ser algo semelhante a discutir o futuro espiritual da humanidade, algo que está sempre além de nós mesmos. A pirâmide de Maslow já concebeu e nos explica muito bem essa dificuldade. As necessidades humanas começam pelo básico, pelas necessidades fisiológicas que podemos simplificar como necessidades de sobrevivência humana natural, incluindo alimentação, bebida e abrigo.

Em seguida, temos a necessidade de segurança própria, uma segurança representada pela ordem, pela lei, pela estabilidade do meio em que se vive. Esses dois primeiros elementos, as necessidades fisiológicas e de segurança, se classificaram após anos de estudos como necessidades básicas do ser humano.

Discussões sobre o meio ambiente e sua proteção são nobres, mas precisam estar em harmonia com a satisfação das necessidades humanas básicas. De outra forma ficarão vazias e sem respaldo da população. Adicionalmente, as organizações empresariais e as não governamentais, as chamadas ONGs, têm um papel fundamental no apoio a essas iniciativas. A começar por tornarem públicas suas próprias metas associadas às iniciativas ambientais, sociais e de governança, as iniciativas do inglês ESG, e seus respectivos relatórios.

Um relatório do fundo de investimentos Blackrock sobre a sustentabilidade como o futuro dos investimentos, defende que a existência de dados mais detalhados, a análise mais sofisticada e a compreensão social da sustentabilidade em mudança [além de aumentar a conscientização de que certos fatores – geralmente caracterizados como ambientais, sociais e de governança ou ESG] podem estar ligados ao potencial de crescimento de uma empresa a longo prazo.

https://www.blackrock.com/us/individual/literature/whitepaper/bii-sustainability-future-investing-jan-2019.pdf

Esses e muitos outros relatórios estão disponíveis para nos suprir de entendimento da situação. Outro estudo, agora da Accenture Strategy sobre o Pacto Global das Nações Unidas também tratou do tema. Esse estudo sobre sustentabilidade oferece uma visão sobre as oportunidades e os desafios para a sustentabilidade desde o lançamento dos Objetivos Globais em 2015.

Interessante se observar que a transformação é difícil. Restrições econômicas e prioridades concorrentes são barreiras comuns a serem superadas. Incertezas geopolíticas, tecnológicas e socioeconômicas também são fatores desafiantes.

O grande destaque dos relatórios técnicos estruturantes é que na maioria deles está clara a necessidade de harmonia e alinhamento entre governos, iniciativa privada e organizações não governamentais. Mas não somente um alinhamento de ideias e, sim, um alinhamento de necessidades e fatos. Não bastam desejos e holofotes sem dados consistentes para subsidiar os fatos e, mais importante, para subsidiar propostas e iniciativas.

As ONGs, por exemplo, podem apresentar relatórios próprios de suas atividades ambientais, sociais e de governança bem como propostas estruturantes para se atrair interesse e capital para suas demandas.

As empresas, da mesma forma podem e devem divulgar detalhadamente, dados próprios dos impactos que seus negócios têm no meio ambiente, na sociedade e sua estrutura de governança. Em meio a toda essa agitação ambiental, a Amazon, uma das mais famosas empresas do mundo, tornou públicas algumas de suas iniciativas, buscando dar transparência ao seu compromisso com o meio ambiente.

E ainda mais importante é a participação dos governos nessas iniciativas. Tal como observado anteriormente, os governos devem implementar iniciativas que busquem um ganha-ganha.

Ações regulatórias que promovam inovações tecnológicas e a transição da indústria para uma economia de baixo impacto ambiental podem ajudar; mas tais ações devem gerar benefício social.

E ainda devemos promover a busca de uma sociedade mais eficiente e produtiva, e que possa satisfazer suas próprias necessidades básicas. Pois de outra forma discutiremos o futuro ambiental do planeta tal como se discute o futuro espiritual da humanidade, algo que está sempre além de nós mesmos.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em novembro de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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