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A pandemia e a nova realidade econômica

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Ao iniciar esta análise, já há algum tempo, nem esperávamos que teríamos essa pandemia a nossa frente, e por tanto tempo.

Ao abrirmos a página do site do Banco Central (do Brasil, é claro), e buscarmos o Panorama Econômico, vemos a taxa de juros Selic em 7,75% a.a.; sim ao ano! Ainda além disso, temos o IPCA, nossa inflação oficial em destaque, que nos últimos 12 meses foi de 10,67%.

Nada alentador nesse momento! Isso pois sabemos que essa taxa de juros e inflação alta é muito prejudicial. Precisamos de inflação baixa, estável e previsível que traz benefícios a sociedade.

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Ganhar dinheiro com inflação e taxa de juros é uma ilusão de ganho sem produção de riqueza. Debater os ganhos ou perdas econômicas e financeiras descontadas da inflação é uma discussão vazia e sem substância. Analisar ganhos ou perdas financeiras pela relatividade dos fatos, sejam eles de inflação, taxa de juros ou outros quaisquer é uma dependência desnecessária e danosa.

O Brasil mudou e, certamente, apesar desse momento complexo de alta taxa de juros e inflação, ainda vamos colher muitos benefícios dessas mudanças nos próximos 5 a 10 anos. A disponibilidade interna precisa ser posta para o setor produtivo. Muitos recursos financeiros estacionados no mercado financeiro com um rendimento pela taxa de juros alta, precisam migrar para o setor produtivo. Precisamos de novas e mais, aberturas de capital, os chamados “IPO”, a despeito da pandemia.

Para ilustrar o círculo vicioso anterior, aplicávamos no mercado financeiro, lastreado na sua maior parte em títulos do governo brasileiro, e então o governo nos pagava juros com um recurso que ele próprio, o governo, não tinha. Isso pois o governo é deficitário, não arrecada o suficiente para pagar seus custos, nem tampouco os custos da dívida. E o governo não arrecada, em parte [sabemos que esta parte pode ser debatida, mas é verdadeira] pelo déficit econômico do país, ou seja, economia fraca, pouca geração de riqueza, poucos impostos pagos e pouco dinheiro alocado ao setor produtivo.

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A partir do momento em que esses recursos são aplicados no setor produtivo vemos então esse círculo girar para o sentido positivo, produtivo. Os recursos financeiros que são tomados pelas empresas devem ser de longo prazo, permitindo assim o amadurecimento e a concretização dos objetivos de crescimento e produtividade.

Devemos discutir ganhos de produtividade, de riqueza. Devemos discutir a geração de ganhos que permanecem gerando novos ganhos. Se temos sido admiradores dos países ricos então devemos também ser e replicar a forma em que tais países se enriquecem. As maiores riquezas dos americanos estão associadas a riqueza da economia, refletida nas empresas. Na Europa isso não é diferente!

O Brasil pode, e vai enriquecer, e muito, e desta vez será por meio de empresas ricas que forem construídas ao longo do tempo, pautadas na produtividade e geração de riqueza permanente.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em novembro de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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O desafio da gestão remota, mesmo que on-line

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Temos trabalhado, já há tempo, de forma remota, forçada. Se antes essa proposta de trabalho, do escritório em casa e do trabalho on-line, parecia um modismo, algo de vanguarda, durante o tempo de reclusão pela pandemia se tornou uma forma de sobrevivência.

Agora, a questão é: como reagiremos quando começarmos a voltar à normalidade do trabalho presencial, do contato social e da interação humana constante? Muitos de nós, senão a maioria, terá se estruturado de forma dupla, com uma base extra de trabalho em casa, mesmo que ainda preliminar e não completamente organizada.

A produção industrial que já está em grande parte automatizada não deve ter uma grande mudança, talvez uma evolução com maior automação e gestão remota, mas acredito que terá que ser gradual para ser efetiva. Na sequência, temos a logística, que precisa existir e certamente continuará se modernizando, e que tem a característica de ser uma rede intrincada e fundamental para nossa sobrevivência, já que assegura que os produtos uma vez produzidos cheguem aos seus destinos intermediários e finais.

Agora, o comércio e principalmente os serviços, esses sim sofrerão um grande impacto, na maioria dos casos de desafios de se fazer melhor e com menor atrito possível. Mas para que isso aconteça, como fazê-lo de forma remota e pouco presencial? Esse desafio ainda está por vir e ser experimentado por uma grande parte das empresas, no mundo e, principalmente, no Brasil.

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Nosso estilo cultural, social e de gestão empresarial ainda é de forma muito presencial e interativa. Ainda não estamos tão acostumados a interação remota, rápida e objetiva, nem receber instruções [remotas] e planos de trabalho, interpretá-los e executá-los com efetividade, ou seja, atingindo o objetivo.

Este tema de liderança e gestão empresarial é infindável e a todo o tempo os grandes pensadores e estudiosos, assim como os executores dessas funções discorrem sobre o que acreditam ser os pilares dessa tarefa interna nas organizações empresariais, sociais (ONGs) e, inclusive, governamentais, ou seja, os próprios departamentos de estado e governo. Em uma dessas várias publicações sobre liderança e gestão [empresarial] suportada pelo IMD [uma escola de negócios Suíça], os autores tratam amplamente daquilo que eles chamam, numa tradução livre, de: “Estando lá, mesmo quando você não está: a liderança por meio de estratégias, estruturas e sistemas [processos]”.

Neste momento de retomada após um longo tempo de distanciamento é certo que todos aprendemos a nos comunicar melhor e entender melhor nossas tarefas individuais e coletivas, tanto no extremo daquele que recebe orientações como daquele que dá orientações. Não temos a presença física, algumas vezes temos o visual on-line, naturalmente com alguma limitação, e precisamos entender um ao outro, executar uma tarefa ou procedimento e atingir um objetivo. Os estudiosos lançaram um conceito que podemos sintetizar entre a atividade de gestão “na” empresa versus gestão “da” empresa!

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Com o distanciamento social devido a pandemia e o consequente distanciamento empresarial, devemos ir além do aprendizado prático, que provavelmente tivemos, e buscar ainda mais um aprendizado teórico e concreto de gestão remota. Isso pois nossas organizações, empresariais ou de qualquer outra natureza vão em muito depender da nossa capacidade dessa forma de gestão para sobrevivência nesse novo momento que já está sendo chamado de “novo normal”.

Uma nova realidade em que não há mais espaço para se atingir os objetivos apenas estando lá e, sim, o de atingirmos nossos objetivos refletindo nossa presença mesmo não estando lá, não estando presente no dia a dia das tarefas em que somos parte constantemente.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em setembro de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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O dia depois de amanhã

Foto por Chris Czermak em Pexels.com

Como seria bom se pudéssemos ler o jornal de depois de amanhã.

Todas essas dúvidas incessantes de como será nosso dia a dia depois da pandemia estariam esclarecidas. Mas nem nós e, me parece ninguém, tem essa prerrogativa: a de saber o futuro. Podemos sim trabalhar com expectativas e hipóteses, mas somente para tratar o hoje com vistas a amenizar o amanhã.

Todas as grandes empresas estão fazendo previsões sobre como serão os negócios no futuro pós-pandemia, um futuro, inclusive, que já tem sido chamado de novo normal.

Dentre as grandes auditorias, uma delas, a PwC, tem publicado e atualizado rotineiramente uma pesquisa americana e global, denominada “COVID-19 Pulse reports”. Buscando alguma convergência de expectativas, na pesquisa publicada já há 1 ano, que neste momento pode até estar um pouco ultrapassada devido a dinâmica do momento, tivemos quatro grandes tópicos que se destacaram:

  • O descritivo da rotina de volta ao trabalho deve redesenhar como as tarefas serão feitas; isso pois quase a metade dos pesquisados (49%) disseram que o trabalho remoto está aqui para ficar para certas funções. Consequentemente, as empresas já estão reconfigurando o ambiente de trabalho;
  • Proteger a saúde das pessoas deveria e tem estado no topo; uma grande maioria (77%) planejou e tem adotado medidas de segurança [de saúde]: testes [exames de saúde] tem ocorrido frequentemente e ainda se espera um aumento nos pedidos de ausência por doença e outras razões;
  • Impactos substantivos [significativos] eram esperados nos resultados de 2020, e aconteceram; entretanto, um pouco diferente pois houve um efeito grande nas economias pelos incentivos governamentais direto ao cidadão;
  • As pressões de custos deveriam se intensificar; as demissões que ocorreram já estão se revertendo e o controle de custos tem ocorrido, mas muitos investimentos planejados têm sido mantidos.

Enquanto todas essas expectativas são confirmadas, ou não, ao longo do tempo conforme o retorno ao trabalho se desenrola, temos algumas percepções mais tangíveis e mais próximas de nós nesse momento. O que devemos notar conforme voltamos ao trabalho são substancialmente decorrentes de alguns fatores típicos e simples do nosso dia a dia, como segue:

Foto por Ian Beckley em Pexels.com
  • Ida [e volta] ao trabalho e demais lugares: um dos primeiros movimentos que veremos a nossa volta será derivado da própria e real ida e vinda do trabalho – mesmo que tenhamos tido muito trabalho remoto ao longo dessa reclusão, certamente uma grande maioria tanto estará ansiosa como, de fato, precisará retornar presencialmente ao seu trabalho para desempenhar suas funções. E isso causará, e de fato está causando, um certo alvoroço tanto no transporte público como em todo o trânsito das cidades;
  • Nossa aparência: conforme retomamos nossas atividades em público, fora de nossas casas e de nosso conforto e discrição, nossa aparência novamente será notada. E certamente essa necessidade irá muito além do mero corte de cabelo. Teremos novo comportamento associado ao uso de s máscaras, ao distanciamento físico, tanto social como profissional, e entraremos em um novo processo de retomada de consumo – o comercio deverá ser muito beneficiado pelo retorno ao trabalho;
  • A reconfiguração dos locais não somente de trabalho, mas também de compras e entretenimento; as rotinas de abertura e fechamento, bem como o uso diário dos espaços nos restaurantes, nas lojas, nos escritórios e nas fábricas, mesmo aquelas que permaneceram produzindo, já terão uma nova realidade. A própria limpeza e compartilhamento dos lugares estão sendo revistos e repensados.

Como conselheiros, executivos e dirigentes de empresas podemos pensar estrategicamente o dia seguinte na retomada e reabertura das atividades. Mas como cidadãos veremos diariamente as consequências diretas na nossa vida individual e coletiva, tanto familiar como social e profissional, de uma retomada das atividades depois um período de reclusão sem precedentes na história recente da humanidade.

E de fato ainda saberemos como será o dia depois de amanhã!!!

E nesse tempo de retomada notaremos que todos nós mudamos, e muito, e ainda teremos que continuar mudando, para sobrevivermos.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em junho de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Estamos 30 anos atrasados, será mesmo?

Foto por Guillaume Meurice em Pexels.com

Há quem diga que estamos com 30 anos de atraso em relação aos Estados Unidos. Várias vezes, já lemos e assistimos matérias jornalísticas a esse respeito. Inclusive, baseados em uma dessas reportagens, pudemos falar das reais oportunidades que o Brasil apresenta para os investidores, sejam eles locais ou mesmo internacionais.

O atraso em si tem uma conotação ruim, mas denota uma real oportunidade para os brasileiros que querem empreender, na forma mais legítima da palavra. Recentemente, tivemos um grande exemplo de empreendimento, como chamado no livro, “Na Raça”, do Guilherme Benchimol, com a XP! Destacar um ponto de vista, da oportunidade real e subjacente que existe no mercado, a todo tempo, se torna difícil sem um exemplo concreto.

A XP e seu fundador são exemplos latentes no momento e, certamente, há muitos outros que cada um de nós vê no seu dia a dia, ao seu redor. E aqui vemos um ponto diferencial, pois se estamos 30 anos atrasados em relação aos Estados Unidos, isso para o fundador da XP foi exatamente, uma oportunidade. De forma sucinta o livro comenta que Benchimol e seus sócios foram à feira do banco americano Charles Schwab e copiaram o modelo. A partir dali, tentaram convencer as pessoas a deixar os grandes bancos, algo inconcebível até aquele momento no Brasil.

Talvez não com essa consciência e raciocínio, mas com se diz na capa do livro, “Na Raça” e, portanto, sem constrangimento e vendo o atraso Brasileiro, o fundador da XP copiou um modelo americano e transformou a realidade brasileira: … não sabendo que era impossível, foi lá e fez!

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Essa investida da XP nesse mercado é o típico exemplo do Oceano Azul,  um conceito de negócios, apresentado em um livro de mesmo nome, que diz que a melhor forma de superar a concorrência é parar de tentar superá-la. Ou seja, buscar mercados ainda não explorados, chamados pelos autores do conceito de “oceano azul”. Na metáfora marítima, o oceano azul é um local em que se pode nadar livremente enquanto os mercados já saturados são o “oceano vermelho” em decorrência do sangue derramado nas batalhas entre os concorrentes. Inclusive essa proposta traz os seis princípios do oceano azul que são:

1 – Reconstruir barreiras no mercado

2 – Concentrar-se no panorama geral

3 – Ir além da demanda existente

4 – Formular a estratégia na sequência adequada

5 – Superar os obstáculos organizacionais

6 – Orientar a execução estratégica

Foto por Skitterphoto em Pexels.com

“É um conceito que foca na inovação do modelo de negócio e sua principal ferramenta é a curva de valor. É um tanto idealizador e segui-lo à risca pode ser frustrante, porque a maioria das empresas não consegue encontrar um oceano azul – isso é uma exceção – mas a essência do conceito ajuda as empresas a se repensarem, a tentarem inovar na sua curva de valor e isso é muito positivo”, diz Marcelo Pereira Binder, professor da FGV-EAESP. Foi o que aconteceu com o início da XP, que passou a atender um público que ninguém atendia [ou fingia que atendia], de uma forma que ninguém fazia.

A comparação com o modelo de Charles Schwab já está em vários meios de comunicação americanos, e toda essa onda de admiração gerando uma vantagem competitiva tende a aumentar e transpor fronteiras.

E quantas outras oportunidades existem de natureza semelhante no Brasil? Quantos outros oceanos azuis existem?

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em maio de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Um novo ano, uma nova década, a mesma pandemia

A mudança de década tem sido muito mais lembrada nos últimos anos; inclusive, já se vê uma discussão se a década muda de 19 para 20, ou de 20 para 21. Independente da técnica, é certo que a mudança digital (dos dígitos) visual de 19 para 20 faz muito mais sentido e, portanto, adotamos socialmente como mudança de década.

Mas o que importa mudar uma década? Bom nesta mudança atual, de 19 para 20, importa muito; começamos essa nova década de final 20, com uma pandemia viral sem precedentes.

E ainda tivemos o efeito psicológico, pois todos os comunicadores prospectivos, aqueles que falam do futuro, de como devemos nos preparar para ele e como podemos aproveitar melhor esse futuro, sempre usam essa virada para prognosticar as grandes mudanças e, nos tempos atuais, em especial, as mudanças tecnológicas.

Vamos falar das mudanças tecnológicas então… o que há de expectativa e o que esperar de impacto dessas novidades. Alguns articulistas estão comentando sobre uma mudança tecnológica com efeito de uma inovação das mais disruptivas em décadas. Que essa tecnologia é algo que afetará todos os aspectos da vida das pessoas e será transformativa em todos os aspectos. Arrisco dizer que até aqui, muitos estão pensando a atividade online, mas será somente isso?

Não! Não estamos falando somente da atividade online. Estamos vislumbrando uma inovação que está trazendo a próxima fase na tecnologia de computação, o que a Forbes está chamando de “Próxima Revolução Industrial”.  Simplificando, essa tecnologia vai “automatizar” totalmente todos os aspectos de nossas vidas.

Então do que estamos falando?  Estamos falando de uma “segunda onda” tecnológica, na qual os computadores serão poderosos o suficiente para conversar e aprender com outros computadores. Eles poderão analisar trilhões de pontos de dados e tomar decisões perfeitas em meros nanosegundos e se atualizar automaticamente – sem a necessidade de um operador humano. Esse aprendizado de máquina, essa nova onda está sendo chamada de “inteligência artificial” – que se acredita, mudará o mundo.

Apenas para citar alguns impactos em nossa vida diária da Inteligência Artificial: o carro autônomo tem sido um dos mais citados e vistos como uma ruptura a ser conquistada derivada da IA; já se fala em alguns diagnósticos médicos via celular, não telemedicina, mas diagnóstico de fato em que as condições do paciente são coletadas via câmera do celular; e o efeito na internet chamado Internet das Coisas, que se espera que ela deve gerir as “coisas” a partir das nossas casas, nossos aparelhos eletrônicos, e muito mais.

Mas a inteligência artificial não terá valor nem utilidade alguma se não tiver onde navegar, para onde e de onde, trocar informações. Essa IA precisa ir e vir para gerar algum impacto relevante em nossas vidas. Precisamos da chave e do caminho para que a IA se torne realmente impactante e benéfica.

Agora já sabemos que, graças à IA, a “Internet das Coisas” se desenrolará rapidamente nos próximos anos, mas, para que essas tecnologias se tornem populares, nossa infraestrutura de dados atual exigirá uma atualização maciça. Pensemos na quantidade de dados transmitidos todos os dias à medida que milhões de pessoas veem notícias, interagem nas redes sociais e enviam mensagens de texto de seus celulares. Agora vamos imaginar bilhões de dispositivos “conversando” entre si – enviando e recebendo dados – em alta velocidade, 24 horas por dia. Simplesmente, sem toda uma nova geração de tecnologia de velocidade de dados, a “Internet das Coisas” não decolará e nem muitas outras ideias e propostas, tais como o carro autônomo e outras.

Nesse momento temos mais uma nova onda para essa nova década, uma rede de dados hiper conectada chamada 5G!!! O 5G é um tecido digital unificador que permitirá que bilhões de dispositivos se conectem e se comuniquem, o tempo todo possibilitando a “Internet das Coisas”.

É surpreendente o que se espera aconteça nesta década, mas também é desafiador pois os investimentos necessários para tornar a IA realmente produtiva serão enormes; e ainda, mesmo com essa inteligência artificial extraordinária que possamos ter, sem comunicação entre os dispositivos inteligentes, podemos não ter os benefícios tanto propagandeados. E para isso já se espera que a tecnologia 5G chegue ao mesmo tempo, para que tenhamos uma rede para sustentar toda essa evolução.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em fevereiro de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A cidade do futuro. Ou do presente!

Já há algum tempo, uma escola de negócios na Europa, o IMD (Institute for Management Development) publicou em sua página, um índice: de pesquisa e conhecimento, o “IMD Smart City Index 2019”.

O IMD, em parceria com a Universidade de Tecnologia e Design de Cingapura, apresentou em 2019 a primeira edição do IMD Smart City Index com 102 cidades em todo o mundo. Ser uma cidade “inteligente” reconhecida globalmente pode se tornar fundamental para a atração de investimentos e talentos, criando um potencial “ciclo virtuoso”.

Até o momento, este parece ser o único índice global dessa natureza, que se concentra exclusivamente em como os cidadãos percebem o alcance e o impacto dos esforços para tornar suas cidades inteligentes, equilibrando aspectos econômicos e tecnológicos com dimensões humanas.

Já há algum tempo também se viu no Brasil uma discussão, liderada pela CPFL Energia, sobre a cidade do futuro, mais especificamente, “A Energia na Cidade do Futuro”; subsidiada por uma discussão detalhada de nove temas que deverão impactar a cidade do futuro, mais especificamente no setor elétrico. Naquele momento já se via o que hoje tem sido tão fortemente discutido, sobre o que será mais importante para o cidadão: a consciência ecológica universal de preservação do planeta ou o anseio por mais conforto e bem-estar individual? Notamos que certamente a busca do equilíbrio tem sido e deve ser a tônica neste tópico!

O que se nota logo no início dessa discussão, chamada de Visão 2030, é que as atividades econômicas, sociais e mesmo ambientais estão intimamente conectadas com a energia e suas fontes naturais. Elas possuem a energia nas suas mais diversas formas, como um instrumento básico de existência e subsistência. E, além disso, há uma relação direta entre o desenvolvimento econômico e os benefícios sociais derivados, e o consumo de energia, o tempo todo. Desta forma, a garantia do suprimento energético, de forma sustentável preferencialmente, se torna fundamental para qualquer discussão sobre a cidade inteligente, seja do futuro ou mesmo do presente momento.

Enquanto isso, a preparação do índice de cidades inteligentes promovido pelo IMD está baseada em dois pilares para os quais as percepções dos moradores são solicitadas: o pilar Estruturas, que se refere à infraestrutura existente das cidades e o pilar Tecnologia, que descreve as provisões e serviços tecnológicos disponíveis para os habitantes.

Na análise detalhada da cidade do futuro, “Visão 2030”, já no primeiro capítulo temos a discussão sobre a gestão da infraestrutura urbana. Esses temas são intrínsecos e codependentes, pois uma cidade para ser inteligente precisa desse pilar de infraestrutura e a ela acoplada, a tecnologia; mas nem a infraestrutura geral e muito menos a tecnologia funcionam e não funcionarão na cidade inteligente sem a infraestrutura específica de “energia”!

A cidade do futuro, ou mesmo do presente, tende a ser algo como um organismo vivo. Seu crescimento decorre dos usos e costumes de seus habitantes, muitas vezes até de usos impensados e até impróprios. O futuro de uma cidade decorre dessas forças naturais de seus habitantes e seus usos, da visão individual e coletiva da sociedade e suas demandas e, acima de tudo, do poder público e como esse poder interage com as reais necessidades presentes e futuras dessa cidade. Qualquer que seja a visão de uma cidade inteligente, do presente ou do futuro, essa visão somente se materializará de forma gradual e contínua, pela evolução dos processos urbanos.

O poder público eleito tem em suas mãos os vetores de influência e condução dos caminhos que uma cidade pode percorrer na melhoria de sua infraestrutura e tecnologia para sua população. E para que essa melhoria aconteça, é necessário se percorrer um caminho contínuo pois a construção das mudanças é gradual e as mudanças serão absorvidas pelas pessoas em diferentes etapas de sua vida. Da mesma forma, o poder público tem uma responsabilidade de continuidade e persistência na construção contínua dessa melhoria, mesmo nos momentos de sucessão e troca do Executivo e Legislativo de cada cidade.

O índice de cidades inteligentes foi criado baseado em dois pilares, Infraestrutura e Tecnologia e, acima de tudo, o quanto esses dois pilares propiciam benefícios reais à população na sua vida diária. Quanto a infraestrutura, devemos lembrar de alguns componentes que são vitais no nosso dia a dia, tais como água e esgoto, energia elétrica e gás, algumas vezes encanado ou entregue regularmente em nossas casas, e a estrutura viária de ruas e avenidas e principalmente o transporte urbano. Quanto a tecnologia, ainda vemos concretamente muito pouco apesar dos enormes alardes da mídia em geral. A tecnologia tem sido usada para gerir os ativos de infraestrutura e para nos dar como cidadãos muita informação, serviços e lazer.

Talvez com o advento do 5G teremos uma nova onda maior da chamada tecnologia (realmente) embarcada, mas esse tema fica para outro dia!

Nosso país tem os elementos essenciais para a prosperidade. Ainda estamos bem distantes e estamos em poucos e muitas vezes mal colocados (ranqueados) em vários índices tais como de competitividade global e agora de cidades inteligentes – apenas São Paulo e Rio de Janeiro entraram nesse índice. É certo que muitas cidades desse índice são pequenas e médias, certamente sendo muito mais fácil se tornarem inteligentes. Mas isso deve então ser um alento de que muitas das nossas cidades médias poderiam sair na frente e se tornarem cidades inteligentes, exemplo para as demais.

O que nos chama a atenção é que a necessidade de se pensar a cidade do futuro, a cidade inteligente, é imediata – precisamos pensar na cidade do futuro de forma inteligente para termos uma cidade inteligente, na infraestrutura e na tecnologia, em prol da sua população, com benefícios reais de melhoria de condições de vida. A cidade inteligente deve propiciar ao cidadão condições essenciais de educação, saúde e segurança, elementos vitais para o bem-estar social e econômico, o que certamente promoverá um círculo virtuoso econômico e próspero.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em janeiro de 2020 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Precisamos tirar o atraso!

Já há muito tempo se fala que o Brasil está atrasado. Seja naquilo que temos disponível em nosso mercado consumidor, seja nas técnicas produtivas básicas e primárias, seja na gestão empresarial. E podemos ir além, somos um dos países que gera os melhores jogadores de futebol do mundo e não conseguimos pagá-los, não temos riqueza no nosso futebol suficiente para retermos nossos melhores jogadores.

Há dez anos, Ferran Soriano publicou o livro “A bola não entra por acaso”, baseado em sua experiência como vice-presidente no FC Barcelona (sim, o time de futebol famoso, Barcelona) entre 2003 e 2008. Consta que nesse período, Ferran Soriano fez do clube – que estava à beira da falência – um modelo de gestão de sucesso: coordenou a transformação estrutural que tornou o Barcelona um dos mais bem-sucedidos e modernos clubes da Europa. Se lermos o título original em espanhol temos ainda melhor noção daquilo que o autor busca expor: “La pelota no entra por azar”!

Ao tomarmos alguns dos ensinamentos que o livro nos traz vemos que precisamos reinterpretar a lógica para avançarmos e tirarmos o atraso. Entender a lógica de uma indústria ou qualquer outra atividade humana (tal como a gestão política e econômica de um país) é imprescindível para participar dela com um mínimo de sucesso. Porém, se o que se quer e se busca é uma mudança, será necessário reinterpretar essa lógica existente no momento e ser capaz de encontrar uma nova compreensão.

A retomada do crescimento brasileiro inclui esse desafio, de que há uma lógica, sim, mas provavelmente não é aquela na qual a maioria acredita e, portanto, não se deu ao trabalho de descobrir a nova lógica instalada. Em um mundo tão competitivo quanto o nosso, quem ganha é aquele capaz de aplicar as novas compreensões da realidade com certa antecipação, quem muda e se adapta primeiro. Também ganham aqueles que são suficientemente analíticos para compreender a nova realidade e suficientemente hábeis e corajosos para colocar suas ideias em prática.

Vivemos um momento claro e objetivo de escolhas em nosso país, escolhas que poderão, ou não, tirar o Brasil do atraso e atrair [novamente] o interesse global pelo nosso potencial. Nosso país tem um enorme potencial econômico e há décadas carece de escolhas relevantes, impactantes e, acima de tudo, certas e transformadoras. Tal como quando se pede a uma equipe que organiza uma expedição em uma floresta e ela inicia um processo de estruturação hierárquica e funcional do grupo expedicionário. Na maioria das vezes, esse grupo costuma esquecer da pessoa mais importante da expedição e ignora a decisão mais transcendente para essa empreitada, de quem foi a decisão de iniciar a expedição e para qual floresta se deveria ir.

De maneira análoga, nos negócios e, acima de tudo, no país, decidir qual é a floresta que se quer explorar, é a primeira decisão e a de mais transcendência. Estamos em um momento de transcendência econômica no Brasil, pois certas florestas precisam ser exploradas, sob pena de nos atrasarmos ainda mais no cenário mundial e aprofundarmos essa crise com danos sociais sem precedentes.

Da intenção ao compromisso. Há uma citação atribuída ao escritor alemão Johann Wolfgang Goethe que trata da lógica do compromisso e que organiza a ideia de que depois da intenção, vem o compromisso, e que sem esse compromisso, não caminhamos, não evoluímos. Em parte, ele escreve: “Enquanto não nos comprometemos, há vacilação, possibilidade de voltar atrás. … quando nos comprometemos a “providência” também dá um passo adiante.”

Portanto, precisamos mudar agora, ou nunca! Quando alguém se encarrega de um projeto que necessita de grande transformação, nos primeiros meses se darão as melhores condições possíveis para decidir e executar as mudanças. Condições que talvez não se repitam, nunca mais.

O que nos parece é que finalmente temos tanto economicamente como politicamente uma floresta escolhida, uma intenção e, acima de tudo, um compromisso por essa exploração. É evidente que muitos ainda não compreenderam a magnitude dessa necessidade e estão vendo esse momento com uma lógica do passado, e com dificuldades de aceitar essa mudança, prospectiva.

Para tirarmos esse atraso do Brasil em relação ao mundo, a passos largos, precisamos dessa firme intenção e do compromisso inequívoco de todos, para concretização desse e de muitos outros objetivos. Precisamos da intenção, e acima de tudo, do compromisso de explorar muitas florestas a começar pela primeira.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em agosto de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Brumadinho, Mariana e outros [pandemia] desastres

pandemia 1Há bem pouco tempo vimos mais uma catástrofe acontecer, um desastre de proporções inimagináveis, que foi o rompimento da barragem que devastou Brumadinho e toda região. Não muito antes, apenas três anos, vimos algo também catastrófico, o rompimento da barragem de Mariana.

Neste momento estamos vivendo uma inédita pandemia sem precedentes e sem expectativa de data para acabar!

Não faltam razões, explicações e ponderações para esses acontecimentos. Não falta disposição de todos em ajudar no resgate das vítimas e, além disso, no diagnóstico e nos reparos, físicos, emocionais e financeiros que serão necessários. Também sobram acusações para todos os lados, atingindo toda sorte de pessoas, empresas, organizações e entidades das mais variadas naturezas.

Mas nos parece que ainda falta a assunção prévia de responsabilidade por aquilo que fazemos ou deixamos de fazer e pelas entidades que representamos. Ainda podemos ser melhores cidadãos em cada um dos papéis que exercemos, não importando se representamos a nós mesmos, uma empresa privada, uma organização não governamental ou mesmo um órgão do governo de forma geral.  Onde quer que estejamos temos responsabilidades por aquilo que fazemos.

pandemia 3Também não faltam ferramentas para gestão empresarial e, principalmente, para gestão do risco empresarial, o chamado ERM, do inglês “Enterprise Risk Management”. Nesse tema, as normas da família ISO 31000 têm como foco a gestão de risco.

Publicada pela ISO (Organização Internacional de Normalização, em inglês International Organization for Standardization), em 2009, a família ISO 31000 é um conjunto de normas-guias, que trazem informações e recomendações para orientar aqueles que querem implementá-la e procuram fornecer informações básicas para todos os tipos de gestão de risco. As ISO 31000 têm como objetivo fazer com que a organização tenha noções de gestão de risco. Ou seja, gestão prévia, antecipada, de possíveis crises e, obviamente, caso aconteça alguma situação de crise, como gerir as consequências com o menor prejuízo possível.pandemia 4

Uma análise tradicional define risco como uma função de probabilidade e impacto. No entanto, eventos improváveis ocorrem com muita frequência e muitos eventos prováveis não acontecem. Pior, eventos improváveis geralmente ocorrem com uma velocidade surpreendente. A probabilidade e o impacto por si só não refletem todo o quadro. Para tanto é necessário avaliar a vulnerabilidade e a velocidade de início. Medindo quão vulnerável se é a um evento, pode-se desenvolver uma visão das necessidades. Medindo-se a rapidez com que isso pode acontecer, se entende a necessidade de agilidade e rapidez de adaptação, de resposta.

Mas todas essas considerações são muito técnicas e necessitam da iniciativa e respaldo humano dos dirigentes das organizações. Nenhuma dessas considerações técnicas serão efetivas, nem surtirão resultado, se não tivermos dirigentes respaldando ações de prevenção, detecção e correção dos processos associados à gestão dos riscos empresariais.

Em seu livro “O Poder do Hábito”, Charles Duhigg, entre os vários assuntos ali tratados, discorre sobre os acontecimentos históricos na multinacional Alcoa. O que nos chama a atenção nesse acontecimento é o comportamento do recém-empossado presidente da empresa, Paul O´Neill, em seu 1º discurso para os analistas em 1987. Havia uma grande apreensão de todos já que o novo diretor executivo seria um ex-burocrata do governo, com postura que lembrava a de um militar. E então ele fez seu discurso, que reproduzimos a seguir em partes (deixo o todo desse discurso e deste capítulo em suspense):

            “…Quero falar com vocês sobre segurança no trabalho …Todo ano, vários funcionários da Alcoa sofrem ferimentos tão graves que perdem um dia de trabalho… Nosso histórico de segurança é melhor do que a média da mão de obra americana … Mas ainda não é suficiente … Minha meta é um índice zero de acidentes.”

A plateia ficou confusa. O tempo passou e quando O´Neill se aposentou, 13 anos depois da sua posse, no ano 2000, o faturamento da empresa era cinco vezes maior do que antes de ele chegar, bem como o valor de mercado que também se multiplicou. Todo esse crescimento aconteceu enquanto a Alcoa se tornava uma das empresas mais seguras do mundo.

Naquela época não tínhamos a ISO 31000, nem os conceitos e publicações sobre ERM (Gestão de Risco Empresarial) tão estudados e amadurecidos para suportar todo o processo de gestão de risco na Alcoa. Mas, acima de tudo, o que se teve ali foi a iniciativa e respaldo humano do dirigente por aquilo que ele assumia como responsável a partir daquele momento. São conceitos primários, fundamentais, de gestão que ouvimos a todo tempo e precisamos praticar ainda mais. pandemia 2Conceitos propagados a todo o tempo a partir dos termos em inglês: “ownership” que significa propriedade, o ato, ou fato de se tomar proprietário de algo; e “accountability” que quer dizer responsabilidade ou o fato de ser responsável pelo que se faz [ou se deixa de fazer] e a capacidade de se dar razão satisfatória para os próprios atos.

Portanto, nenhuma dessas considerações técnicas (necessárias para o processo investigatório) serão efetivas, nem surtirão efeito se não tivermos dos dirigentes principais demanda e respaldo por ações contínuas de prevenção, detecção e correção dos processos empresariais, associados a gestão dos riscos.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em abril de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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O oceano azul das startups

Oceano azul 1Todos os dias vemos uma startup buscando seu lugar ao sol. As startups desenvolvem produtos e serviços e buscam transformar essas ideias em uma empresa que cresça, apareça e, acima de tudo, seja rentável. Mas, como sempre se discute, será que essa startup está realmente vendo o seu mar azul ou apenas funciona na tentativa e erro?

Uma das grandes razões para falhas numa startup é a inviabilidade do seu produto ou serviço. E é interessante notar que a falha decorre da inviabilidade e não da utilidade do produto ou serviço. Temos uma infinidade de desenvolvimentos de várias utilidades que não se tornam empresas pois são inviáveis isoladamente. Não precisamos citar aqui marcas de produtos que sempre foram úteis, mas se tornaram inviáveis e foram substituídas.

Nos dias atuais, entende-se que todas as startups passam por uma metamorfose à medida que se tornam empresas e crescem. Elas vão de organizações que lutam pela sobrevivência (à medida que buscam adequação ao produto/mercado) à construção de um modelo de negócios repetitivo e escalável e, então, à lucratividade. Logo no início uma startup já deve exercitar com clareza seu propósito. Se o propósito é ir além de um trabalho científico, então seu fundador deve se valer de ferramentas apropriadas e testar suas ideias desde o início.

E um ótimo início é o “Modelo de Negócios Canvas” ou “Canvas”. O Canvas tem sido uma grande invenção para todos, desde startups até grandes empresas. Ao contrário de um organograma, que descreve como uma empresa é estruturada para fornecer produtos conhecidos a clientes conhecidos, o Canvas ilustra a busca pelas incógnitas que a maioria dos novos empreendimentos enfrenta. As nove caixas da tela permitem visualizar todos os componentes necessários para transformar as necessidades/problemas do cliente em uma empresa lucrativa. O Canvas serve muito bem em pensar como construir empresas. Em um negócio, o objetivo é ganhar mais dinheiro do que se gasta.

Oceano azul 2Todo esse raciocínio é muito bom, mas ainda carece de se ver para onde o mundo está caminhando, para onde os governos estão apontando sua visão, as organizações não governamentais estão buscando ajustes e as grandes organizações estão direcionando seus interesses e recursos. São esses direcionadores que propiciam oportunidades para novas ideias, novas startups que eventualmente se tornarão novas organizações. E essas oportunidades surgem a todo tempo e geram grandes ondas de investimento na economia dos países. A seguir dois exemplos:

  • Prontuário Eletrônico Nacional: em uma de suas falas o presidente eleito diz: “O Prontuário Eletrônico Nacional Interligado será o pilar de uma saúde na base informatizada. O cadastro do paciente reduz custos e facilita o atendimento futuro por outros médicos, em outros postos ou hospitais. Além de tornar possível cobrar desempenho dos gestores locais”.

 

  • Rota 2030: recentemente sancionada, a lei que cria o programa Rota 2030. A Medida Provisória foi aprovada na Câmara e no Senado, e logo após a aprovação o presidente assinou o decreto-lei que fundamenta a criação do novo regime. O programa, que tem vigência de 15 anos, cria um incentivo fiscal para montadoras que invistam em tecnologia no país. O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), disse que “o Rota 2030 é absolutamente fundamental para a indústria pois concentra apoio à pesquisa e ao desenvolvimento e traz previsibilidade para o setor.”

Basta ler cada uma dessas situações para vermos grandes oportunidades. Um “oceano azul”!

Oceano azul 3

Um mar de oportunidades deve surgir para se implantar essa base informatizada do Prontuário Eletrônico Nacional e, certamente, muitos grandes investidores colocarão recursos nessa área, buscando startups com soluções para essa necessidade.

Quanto ao setor automobilístico, um dos maiores setores na economia do nosso país, o volume de recursos a ser aportado deve ser enorme, na busca por inovação e desenvolvimento. Novas tecnologias devem surgir tanto associadas a eficiência dos produtos ora existentes quanto às novidades em ampla discussão, tais como o carro elétrico, o carro autônomo e muito mais.

As oportunidades para as startups são enormes no dia a dia das pessoas e empresas, e estão associadas diretamente com a realidade da sociedade. Necessidades básicas de locomoção e mobilidade em massa têm gerado uma demanda por novos produtos e serviços a todo tempo. E o amadurecimento e envelhecimento da sociedade gera necessidades na área de saúde que ainda não foram mensuradas e muito menos atendidas.

Uma startup alerta para as necessidades sociais em massa e alinhada com o direcionamento dos governos, das organizações não governamentais e das grandes organizações empresariais sairá na frente com produtos e serviços inovadores que, eventualmente, se tornarão organizações empresariais de sucesso.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em janeiro de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A excelência disruptiva sendo desafiada

Amazon-building-10b3c7Em entrevista recente ao The Sunday Times, Russell Grandinetti, vice-presidente sênior de consumo internacional da Amazon, disse que seu trabalho era focar no crescimento – e é para os outros descobrirem como lidar com as ondulações que a Amazon cria no mercado, conforme artigo publicado pela Inc. Magazine.

Nas palavras dele reproduzidas na internet em uma tradução livre: “As empresas muitas vezes inventaram tecnologias que nos obrigaram a descobrir como reinvestir as melhorias de produtividade [ganhos de produtividade] em novos empregos e novas formas [de fazer as coisas]”, disse ele. “Isso é uma coisa importante a ser feita para a sociedade, uma coisa governamental importante a ser feita. Não acho que seja nosso trabalho fazer algo [ao se referir às ondulações/impactos que a Amazon cria no mercado], mas [sim] tentar sermos realmente bons no que fazemos.” Disponível em: <https://www.inc.com/business-insider/amazon-only-concerned-with-growth-not-whether-it-takes-your-job.html> Acesso em: 03 de setembro de 2018

Temos admirado a Amazon nos últimos anos, temos sido beneficiados por sua operação continuadamente disruptiva e, ao mesmo tempo, sido muitas vezes vítimas das suas investidas. Podemos discutir longamente sobre a ruptura e decadência das livrarias e depois do mercado de lojas e shoppings; e até culpar a Amazon por isso, mas o que me parece é que ela muito mais se antecipou a esse acontecimento via e-commerce do que o oposto. E no momento nos parece que o e-commerce é um caminho sem volta, que a lojas físicas permanecerão em existência, mas o modo como cada uma delas opera e atende clientes deve melhorar e terá de ser em harmonia com o e-commerce.

Em oposição a desafiar uma empresa que se tornou um símbolo de ruptura no mundo dos negócios, que tem se tornado um verbo como “amazonar” um negócio, Brian Stoffel do site “The Motley Fool” optou por extrair conhecimento das cartas aos acionistas que Jeff Bezos escreveu nestes 20 anos de companhia aberta [1997-2017]. Disponível em: <https://www.fool.com/investing/2018/08/04/20-years-of-wisdom-from-amazons-jeff-bezos.aspx> Acesso em: 03 de setembro de 2018

Excelencia-na-gestao-das-empresas-telecomunicacoes-1000x800Extrai três dessas 20 notas que acredito são bem interessantes para nossa realidade, todos em uma tradução livre.

1º – 2009: How to set goals – como definir metas. A Amazon define muitos objetivos. Quase nenhum deles tem a ver com resultados financeiros. Em vez disso, eles se concentram no que podem controlar: o processo.

  • Líderes seniores que são novos na Amazon geralmente ficam surpresos com o pouco tempo que gastamos discutindo os resultados financeiros reais ou debatendo as projeções financeiras. … Focar nossa energia nos insumos controláveis para o nosso negócio é a maneira mais eficaz de maximizar os resultados financeiros ao longo do tempo.

2º – 2011: Eliminating gatekeepers helps the world… and us (Eliminar porteiros [atravessadores ou intermediários] ajuda o mundo … e nós). Alguns acreditam que a Amazon é um monopólio que precisa ser desfeito. Mas os detratores devem reconhecer que a Amazon Web Services (AWS), o Kindle Direct e o Fulfillment by Amazon (FBA) eliminaram os intermediários e permitiram que empresas menores e autores florescessem por um preço [custo] relativamente pequeno.

  • Mesmo intermediários bem-intencionados retardam a inovação. Quando uma plataforma é self-service, até mesmo as ideias improváveis podem ser tentadas, porque não há um guardião experiente pronto para dizer “isso nunca funcionará!” E adivinhe: muitas dessas ideias improváveis funcionam e a sociedade é a beneficiária dessa diversidade.

3º – 2015: Two-way doors vs. one-way doors (Portas bidirecionais versus portas unidirecionais): Bezos percebe que a maioria das decisões é reversível. Você pode usar os conselhos dele abaixo em quase todas as facetas da sua vida.

  • Algumas decisões são consequentes e irreversíveis ou quase irreversíveis – portas unidirecionais – e essas decisões devem ser feitas de maneira metódica, cuidadosa e lenta. … Se você passar e não gostar do que vê do outro lado, não poderá voltar para onde estava antes. Podemos chamar essas decisões do tipo 1. Mas a maioria das decisões não é assim – elas são mutáveis, reversíveis – são portas de mão dupla. Se você tomou uma decisão do tipo 2 que não é ideal, não precisa viver com as consequências por tanto tempo. Você pode reabrir a porta e voltar. As decisões do tipo 2 podem e devem ser tomadas rapidamente por indivíduos com alto julgamento ou pequenos grupos.

Amazon 2019-10-28 (2)Amazon 2019-10-28 (1)De forma resumida acredito que das 20 lições extraídas por Brian Stoffel, as três listadas a seguir são muito relevantes para nossa realidade política, econômica e social:

  • Como definir metas;
  • Eliminar os intermediários;
  • Classificar nossas decisões em: portas bidirecionais versus portas unidirecionais.

E, acima de tudo, os ensinamentos encontrados nessas palavras são muito relevantes e podem nos ajudar em nosso dia a dia em quase todas as facetas de nossa vida.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em outubro de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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