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O mundo das FinTech só está começando!

O alvoroço em torno das chamadas FinTechs tem sido grande. O incômodo que o coletivo tem com os bancos tradicionais é enorme, seja pela dificuldade de se tratar com os bancos ou pelos custos envolvidos nesse relacionamento.

Para melhorar a vida do consumidor de produtos e serviços financeiros, têm surgido todo o tempo as chamadas FinTechs; empresas do setor de Tecnologia que se propõem a oferecer produtos e serviços financeiros de melhor qualidade, com menor custo para o consumidor e de forma mais conveniente.

A onda das Fintechs começou por volta de 2010 como quem iria romper com o sistema financeiro tradicional dos bancos. No linguajar tecnológico seria uma onda disruptiva que mudaria a forma como os bancos e as instituições financeiras de um modo geral operam. Seria o apocalipse das instituições financeiras como as conhecemos.

Dez anos depois, esse apocalipse não aconteceu e o que vemos hoje é que as instituições financeiras continuam operando e crescendo; certamente com muitos diferenciais, principalmente, tecnológicos e muito mais convenientes para os clientes. Além disso, é difícil imaginar as FinTechs ultrapassando completamente os bancos e se envolvendo no nicho de contas correntes. Sempre haverá necessidade de um serviço altamente regulamentado que permita que as pessoas e as empresas mantenham seu dinheiro seguro e acessível. Por hora os bancos parecem ser as entidades mais adequadas para essa função.

Esse e vários outros aspectos são discutidos por Sérgio Schmukler e Juan Jose Cortina Lorente em um artigo de algum tempo atrás denominado: “The FinTech revolution: The end of banks as we know them?” Eles vão além em afirmar que [apesar das instituições financeiras tradicionais continuarem existindo] a tendência para a digitalização e a inovação tecnológica provavelmente reformulará o setor financeiro global e as maneiras pelas quais as empresas financeiras interagem com seus clientes. A proliferação de dispositivos móveis, novos dados demográficos e a ascensão de fornecedores de serviços financeiros são as forças motrizes desse desenvolvimento, alimentando o surgimento de novas soluções e produtos que melhor atendem às necessidades dos clientes, aumentando a acessibilidade, a velocidade e a conveniência.

Como resultado, as expectativas dos clientes em relação aos serviços financeiros estão aumentando e os bancos terão dificuldade em controlar todas as partes da cadeia de valor usando os modelos de negócios tradicionais.

Há também que se notar que alguns bancos globais parecem estar mudando seus canais de distribuição de operações físicas para canais não físicos, que provavelmente serão o principal canal de interação entre bancos e consumidores no futuro. Os bancos também parecem estar mudando e vendo as empresas de tecnologia como parceiros e facilitadores, em vez de disruptores e concorrentes. Os operadores históricos estão percebendo a necessidade de tirar proveito dos recursos da FinTech para expandir os negócios, reter clientes existentes e atrair novos, alguns dos quais anteriormente não eram bancários.

Enquanto isso, sem acesso a uma base de clientes, a confiança do cliente, capital, licenças e uma infraestrutura global robusta, as novas empresas de FinTech descobrirão que existem limites para seu crescimento. A colaboração entre titulares e novos participantes já está ocorrendo e as instituições financeiras titulares parecem estar investindo cada vez mais no setor de FinTech por meio de aquisições, fundos de investimento, incubadoras e aceleradores.

Por outro lado, mais recentemente, um analista de investimentos, Dushyant Shahrawat, em seu artigo sobre investindo em FinTech Startups: “Major disruptors or Mere Distractions?”, comenta que todas essas alegações de que as FinTech Startups seriam disruptivas para as instituições financeiras tradicionais existentes foram esvaziadas. A disrupção em si é complicada, pois é um extremo do espectro de mudanças, com o “status quo” sendo o outro extremo. Entre esses, existem muitos estágios de mudança, que podem não ser facilmente visíveis. Desta forma, ele propõe que as FinTechs pensem além da disrupção.

Existem muitas outras maneiras pelas quais essas startups e as tecnologias emergentes estão forçando mudanças, com grandes implicações na estrutura da indústria, lucratividade, crescimento e até em nossas próprias carreiras.

As FinTechs podem não estar “rompendo” com as instituições financeiras tradicionais, mas estão alterando fundamentalmente o setor de outras maneiras importantes. As startups estão pressionando pela inovação, alterando a lucratividade do setor e reorganizando as cadeias de valor.

Certamente, daqui algum tempo, quando olharmos para trás, veremos que as FinTechs terão realmente forçado instituições financeiras a mudar radicalmente.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em dezembro de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A nova onda ambiental no mundo

Já há algum tempo, e mais recentemente por toda parte, há uma crescente demanda por uma nova onda de proteção ambiental. Lidar com o assunto (ou tema), seja nos âmbitos global, nacional, local, pessoal e até mesmo empresarial não é uma tarefa fácil.

Discutir o futuro ambiental do planeta tende a ser algo semelhante a discutir o futuro espiritual da humanidade, algo que está sempre além de nós mesmos. A pirâmide de Maslow já concebeu e nos explica muito bem essa dificuldade. As necessidades humanas começam pelo básico, pelas necessidades fisiológicas que podemos simplificar como necessidades de sobrevivência humana natural, incluindo alimentação, bebida e abrigo.

Em seguida, temos a necessidade de segurança própria, uma segurança representada pela ordem, pela lei, pela estabilidade do meio em que se vive. Esses dois primeiros elementos, as necessidades fisiológicas e de segurança, se classificaram após anos de estudos como necessidades básicas do ser humano.

Discussões sobre o meio ambiente e sua proteção são nobres, mas precisam estar em harmonia com a satisfação das necessidades humanas básicas. De outra forma ficarão vazias e sem respaldo da população. Adicionalmente, as organizações empresariais e as não governamentais, as chamadas ONGs, têm um papel fundamental no apoio a essas iniciativas. A começar por tornarem públicas suas próprias metas associadas às iniciativas ambientais, sociais e de governança, as iniciativas do inglês ESG, e seus respectivos relatórios.

Um relatório do fundo de investimentos Blackrock sobre a sustentabilidade como o futuro dos investimentos, defende que a existência de dados mais detalhados, a análise mais sofisticada e a compreensão social da sustentabilidade em mudança [além de aumentar a conscientização de que certos fatores – geralmente caracterizados como ambientais, sociais e de governança ou ESG] podem estar ligados ao potencial de crescimento de uma empresa a longo prazo.

https://www.blackrock.com/us/individual/literature/whitepaper/bii-sustainability-future-investing-jan-2019.pdf

Esses e muitos outros relatórios estão disponíveis para nos suprir de entendimento da situação. Outro estudo, agora da Accenture Strategy sobre o Pacto Global das Nações Unidas também tratou do tema. Esse estudo sobre sustentabilidade oferece uma visão sobre as oportunidades e os desafios para a sustentabilidade desde o lançamento dos Objetivos Globais em 2015.

Interessante se observar que a transformação é difícil. Restrições econômicas e prioridades concorrentes são barreiras comuns a serem superadas. Incertezas geopolíticas, tecnológicas e socioeconômicas também são fatores desafiantes.

O grande destaque dos relatórios técnicos estruturantes é que na maioria deles está clara a necessidade de harmonia e alinhamento entre governos, iniciativa privada e organizações não governamentais. Mas não somente um alinhamento de ideias e, sim, um alinhamento de necessidades e fatos. Não bastam desejos e holofotes sem dados consistentes para subsidiar os fatos e, mais importante, para subsidiar propostas e iniciativas.

As ONGs, por exemplo, podem apresentar relatórios próprios de suas atividades ambientais, sociais e de governança bem como propostas estruturantes para se atrair interesse e capital para suas demandas.

As empresas, da mesma forma podem e devem divulgar detalhadamente, dados próprios dos impactos que seus negócios têm no meio ambiente, na sociedade e sua estrutura de governança. Em meio a toda essa agitação ambiental, a Amazon, uma das mais famosas empresas do mundo, tornou públicas algumas de suas iniciativas, buscando dar transparência ao seu compromisso com o meio ambiente.

E ainda mais importante é a participação dos governos nessas iniciativas. Tal como observado anteriormente, os governos devem implementar iniciativas que busquem um ganha-ganha.

Ações regulatórias que promovam inovações tecnológicas e a transição da indústria para uma economia de baixo impacto ambiental podem ajudar; mas tais ações devem gerar benefício social.

E ainda devemos promover a busca de uma sociedade mais eficiente e produtiva, e que possa satisfazer suas próprias necessidades básicas. Pois de outra forma discutiremos o futuro ambiental do planeta tal como se discute o futuro espiritual da humanidade, algo que está sempre além de nós mesmos.

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em novembro de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A excelência em primeiro lugar

mi_f6c655c6-5d72-4a23-8c3d-5597da3b325e_largeEstamos [continuamos] vivendo uma época de extremos. De um lado, a população ataca as instituições por seus desmandos ao longo dos anos, no Brasil e no mundo. Do outro, os novos eleitos nos últimos anos são atacados pela mídia e por seus atos.

Não estamos isolados no Brasil nesses acontecimentos, pois em todo o mundo isso tem se tornado uma constante. Basta citarmos como exemplo os atos dos chamados “coletes amarelos”, na França. Um país entre os mais ricos do mundo, visto e admirado pela cultura e beleza, e ainda por sua atitude muitas vezes antiamericana, também se viu envolvido nesses debates e manifestações das naturezas mais diversas. E se não bastasse, o principal executivo de uma de suas empresas sendo acusado no Japão por atos [impróprios] de gestão.

E o que permanece em meio a tantos conflitos de opiniões e ações, é a nossa admiração por certas empresas, pela excelência delas em meio a tantos desafios, de atender e manter os clientes de forma exemplar e admirável. E vale lembrar aqui a máxima de Steve Blank, da razão de uma empresa falhar [não prosperar, quebrar]. A maioria das empresas [startups ou não] falha não por falta de tecnologia, mas por não encontrar o encaixe certo de produto e mercado. Consequentemente, não se encontrou clientes suficientes para pagar por seus produtos para que [a empresa] se pudesse permanecer no negócio.

empresas-feitas-para-vencer-jim-collins-D_NQ_NP_763199-MLB31423657947_072019-FEntretanto, permanecer em atividade, nos negócios, para uma empresa, não significa sua excelência, mas somente sua sobrevivência. No livro “Feitas para Vencer” de Jim Collins ele conclui que ironicamente o livro cronologicamente escrito após o 1º livro “Feitas para Durar”, conceitualmente deveria precedê-lo. Em sua conclusão, seria interessante [1º] aplicar as descobertas de “Feitas para Vencer” para chegar a resultados excepcionais e duradouros, e então depois aplicar as descobertas de “Feitas para Durar” e partir dos resultados extraordinários chegar à construção de uma empresa excelente e duradoura.

Desta forma, para fazer a transição de condição de empresa [conforme o conceito fundamental de Feitas para Vencer] com resultados excepcionais e duradouros para a de empresa excelente e sólida [duradoura] com status de ícone, deve-se aplicar então o conceito fundamental de Feitas para Durar. Para compreender esse ciclo o livro nos apresenta um fluxo reproduzido a seguir:

Fluxo

O livro Feitas para Vencer foi publicado em 2001 e, anteriormente, o livro Feitas para Durar foi publicado em 1995, conjuntamente há quase duas décadas. Muito mudou desde então, as empresas ícone em excelência atualmente são outras, mas os princípios para se alcançar resultados excelentes e duradouros e para transformar essas empresas em excelentes e duradouras não mudaram.

A admiração nossa às empresas ícone está sempre respaldada nos mesmos conceitos duradouros de ter pessoas excelentes e de ter produtos ou serviços produzidos e prestados com excelência tendo sempre o cliente em 1º lugar.feitas-para-durar-james-ccollins-D_NQ_NP_619552-MLB28247121504_092018-F

Como o próprio Jim Collins sintetiza a ideologia central, a dimensão da excelência duradoura nas seguintes palavras:

Empresas excelentes e duradouras não existem meramente para gerar retorno para os acionistas. Na verdade, em uma empresa que realmente prime pela excelência, os lucros e o fluxo de caixa se tornam como o sangue e a água para um corpo saudável: são absolutamente indispensáveis à vida, mas não são a verdadeira razão da vida.

Após tantos anos, observamos que algumas das empresas estudadas se perderam no caminho nessas duas décadas, provavelmente porque perderam os princípios e ou deixaram aqueles princípios de lado e agora enfrentam grandes dificuldades. Enquanto isso, outras se tornaram ícones dos dias atuais e visivelmente já têm tido no seu bojo esses princípios de excelência desde o início.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em julho de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Enquanto o Brasil não decola

Nos parece que temos mais um ano de pista sem decolagem.Decolagem 1 Um ano que começou com grande expectativa, talvez sem respaldo, e agora as previsões de retomada e crescimento da economia não se confirmam. E passamos a aguardar pelos grandes acontecimentos como se tais fossem resolver todos os problemas do país num passe de mágica.

O Brasil não é uma ilha isolada do mundo. Atualmente, com um mundo globalizado, podemos ter acesso a tudo, de toda parte. E, acima de tudo, podemos ir a toda parte, sejamos nós mesmos, nossos produtos, nossos serviços e nossas pessoas.Decolagem 2

Não faltam iniciativas privadas e públicas para propiciar aos empreendedores brasileiros oportunidades além-fronteiras. As câmaras de comércio da grande maioria dos países desenvolvidos estão presentes no Brasil. Elas, entre outras, são um ótimo canal de comunicação tanto para trazermos negócios para o Brasil como para prospectarmos negócios no exterior.

Então, se pretendemos expandir nossos negócios internacionalmente, seja trazendo negócios do exterior para representarmos no Brasil ou indo para o exterior, precisamos estar preparados. Ter ótimos produtos e serviços locais, de sucesso em nosso ambiente e cultura, não será suficiente. Precisaremos de produtos e serviços internacionalizados e, além disso, e acima de tudo, precisaremos de muita diplomacia.

Um grande exemplo de 30 anos atrás de diplomacia pode ser visto no livro histórico de Jack Welch, sobre sua [e da GE] história na liderança da GE. No início dos anos 90, Welch estava promovendo fortemente o crescimento global da GE, em adição ao crescimento que já havia obtido nos EUA. No capítulo sobre globalização, ele conta sua viagem para Índia. A seguir algumas passagens para ilustrar nossa reflexão:

“Outro evento global memorável daquele ano foi minha viagem à Índia no final de setembro de 1989. Paolo me arrastou para lá pela primeira vez, e eu instantaneamente me apaixonei pelo povo. Paolo construiu um ótimo relacionamento com K.P. Singh, … K.P. foi um verdadeiro embaixador para a Índia. … Os esforços de K.P. e seus amigos trabalharam. Eles nos mostraram uma Índia e um povo que nós amamos. Nós vimos todos os tipos de oportunidades lá. Depois dessa viagem, tornei-me o campeão da Índia. … Os indianos eram altamente educados, falavam inglês e o país tinha muitos empreendedores tentando romper as amarras da pesada burocracia governamental.”

Essa parte do capítulo é extraordinária pois nos conta as nuances de uma habilidade diplomática de recepção dos indianos que cativou profundamente o principal executivo da GE. E Welch também nos conta as consequências, algumas muitas frustrantes, das iniciativas que se seguiram.

O que vemos de mais profundo e impactante nesse primeiro contato é a recepção extraordinária que deram ao visitante, cativando-o desde o primeiro momento. E dentre as percepções iniciais de Jack, o que vemos é ele notar: “… eles falavam inglês …”. Como encantar alguém com uma recepção extraordinária se não somos capazes de falar, de nos comunicarmos com essa pessoa?!

Enquanto o Brasil não decola, localmente, podemos expandir nossos negócios internacionalmente. Seja do Brasil para fora, seja de fora para o Brasil. No livro Negócio Fechado, de Suzana Doblinski Johr, ela também fala sobre a importância de se preparar para negócios internacionais. Ela ressalta que o executivo internacional é o de um profissional que consegue deixar seus hóspedes à vontade, conhece e respeita o protocolo, observa os costumes, é criativo e empreendedor, fala vários idiomas e tem uma visão global.Decolagem 3

Suzana também ressalta que fazer negócios é algo muito mais amplo do que simplesmente negociar. Fazer negócios é socializar e implica amizade, etiqueta, paciência, protocolo e uma longa lista de detalhes culturais. Tão importante quanto o conhecimento do idioma internacional principal, o inglês, é o conhecimento da forma como cada cultura pensa e age.

Enquanto o Brasil não decola, sozinho, preso a mitos de soluções milagrosas e ações de governo, podemos buscar nos negócios internacionais multilaterais, oportunidades de expansão nos nossos próprios negócios.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em junho de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

 

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O poder da marca e seu canal de distribuição

As-marcas-mais-valiosas-do-BrasilTemos tido como referência nos últimos anos, principalmente nesta década, a Amazon como um dos melhores e maiores exemplos de poder sobre os canais de distribuição. Por meio da Amazon podemos ter acesso a uma infinidade de produtos de qualquer ponto do planeta. Sem dúvida, a Amazon se tornou um gigante na venda e entrega de produtos numa amplitude nunca antes imaginada.

Entretanto, produtos de compra, consumo e/ou uso rotineiro e até diário, têm características distintas e ainda estão caminhando lentamente dentro da Amazon. Um exemplo são os itens de compra em um supermercado, que apesar de parecer algo do presente, a compra e entrega em casa ainda são componentes do futuro. Mas o que vimos mais recentemente nos chama muito a atenção pela combinação de marca renomada de um lado e pelo canal de distribuição de outro lado e vice-versa.

Em um desses casos, a Nestlé e a Starbucks anunciaram que concluíram seu acordo de licenciamento para que a gigante suíça de alimentos comercialize os cafés e chás da Starbucks em todo o mundo. O acordo de US$ 7,15 bilhões pagos pela Nestlé à Starbucks, concede à Nestlé direitos perpétuos para vender produtos da Starbucks, como Starbucks, Best Coffee e TeavanaTM/MC de Seattle, fora das lojas de café da empresa americana.

Outro caso já sabido, mas que agora tem-se uma estimativa, é o de quanto o Google paga à Apple para continuar sendo o mecanismo de pesquisa padrão no Safari no iOS. De acordo com o analista Rod Hall (via Business Insider), o Google pode estar pagando à Apple mais de US $ 9 bilhões este ano. A relação entre o Google e a Apple sempre foi interessante, pois acredita-se que a Apple é um dos maiores canais de aquisição de tráfego para o Google.

Empresas gigantes e poderosas individualmente, e ainda assim com diferenciais surpreendentes que leva uma delas a buscar a outra para acordos de valores bilionários, associados à marca e canais de distribuição. O modelo das cinco forças de Porter já identificava esses elementos e destinava-se a análise da competição entre empresas.Marca branding-o-que-e-como-fazer-gestao-marca-exemplos

A análise das cinco forças de Porter possui uma lógica simples, mas que exige uma visão abrangente do negócio, onde o administrador precisa ser capaz de entender o ambiente competitivo para identificar ações e estratégias a serem adotadas.

Ameaças de novos entrantes: esta é uma das cinco forças identificadas por Porter, associada a ameaça de um novo concorrente dependendo da existência de barreiras de entrada. Entre as principais barreiras nós temos: a economia de escala, o capital necessário e a dificuldade de acesso aos canais de distribuição. E, nos casos citados, vemos que o acesso aos canais de distribuição é fundamental.

No primeiro, Nestlé e Starbucks são gigantes no processamento e venda de café no mundo, e mesmo em oposição a se confrontarem, decidiram se unir com as forças maiores de cada um deles. De um lado uma marca de consumo residencial e canais de distribuição para esse propósito e de outro, uma marca muito forte de consumo imediato em loja como principal atrativo, com uma das maiores redes de lojas de café no mundo.

No segundo caso, uma marca que tem seus produtos nas mãos de quase metade das pessoas que possuem celulares no mundo, a Apple, e de outro, uma marca de busca que precisa estar de forma simples e prática disponível para que possamos usá-la a todo o tempo, o Google.

Notamos o quanto ações estratégicas dessa natureza são importantes ao verificarmos a confirmação de que a Vulcabras celebrou recentemente um contrato de compra da Under Armour Brasil. Esse contrato inclui contratos de licença e operação que darão à Vulcabras direitos de ser a distribuidora e licenciada exclusiva das marcas “Under Armour” no Brasil para calçados, vestuário e acessórios.o-que-e-marca

Empresas gigantescas no mundo e no Brasil, buscando assegurar formas apropriadas de que seus produtos e serviços estejam associados a outras marcas e canais de distribuição gigantescos para que os consumidores tenham real acesso e possam comprar e consumir seus produtos e serviços. E vale aqui salientar de que essa estratégia [de Porter] serve e deve ser considerada por toda e qualquer organização, independentemente do seu tamanho.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em dezembro de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Coisa de artista, brasileiro

amyr_klink_6Há pouco mais de 1 ano completamos mais um processo eleitoral em nosso país. A despeito dos resultados e em quem votamos versus quem foi eleito, o processo – como sempre – foi um sucesso. Há anos, décadas, temos tido um processo eleitoral louvável e admirável para o resto do mundo.

A tecnologia, hoje, nos permite conduzir esse processo em todo nosso país, simultaneamente, e de forma harmoniosa. Mesmo nos lugares mais remotos, as urnas chegam, funcionam e cumprem seu propósito. Acima de tudo, o povo, cada um de nós, cumpre sua finalidade.

Uma vez que as eleições confirmaram nosso próximo governo, pudemos seguir em frente e continuar cumprindo nossa parte nesse papel tão importante, de fazer o nosso melhor, seja para nós mesmos, para nossa família, nossa comunidade e sociedade e nossa empresa; mesmo que não sejamos donos ou proprietários, somos parte integrante do sucesso da empresa em que trabalhamos.

Se somos um país exemplar no processo eleitoral, então também podemos ser exemplares nas questões ambientais, sociais e, acima de tudo, econômicas. Sem uma economia estável, previsível e profícua, não há como tratar as demais questões. Sem geração de riqueza não há recursos para se cuidar de tantas outras áreas em necessidade. E a geração de riqueza resulta de nosso trabalho exemplar, tal como nosso processo eleitoral._96855277_gettyimages-535449563

Nessa linha de pensamento, a importância de cumprirmos aquilo que combinamos, em tempo e forma apropriada, é a melhor – se não a única – forma de prosperarmos e gerarmos riqueza. Em seu livro, Linha D’Água, no capítulo Coisa de Artista, Amyr Klink relata seu desafio que ele mesmo resume conforme segue:

“… Dessa vez, o roteiro era mais complicado. À parte os rigores de uma volta ao mundo em latitudes altas, haveria em seguida uma lista de lugares e datas de passagem que, como um navio de linha, o Paratii 2 deveria pontualmente alcançar. O barco seria utilizado para dar suporte a uma série de quatro documentários sobre a natureza, e eu assumi o compromisso de levar em segurança câmeras [aquele que opera a câmera] distintos para os locais previamente combinados …”

E então, em dado momento, depois de cumprir o percurso combinado, Amyr Klink relata:

“… Estava contente não só por voltar com os dedos e pés de todos os tripulantes e passageiros no lugar, mas também por ter conseguido ser rigorosamente pontual num pedaço imprevisível do planeta, onde cumprir horários é difícil …”

Nos surpreendem essas palavras do navegador, e nos surpreende ainda mais a sua capacidade de superar a imprevisibilidade e cumprir o compromisso. Por outro lado, chama a atenção também nossa dificuldade diária de cumprir uma rotina de horário, compromissos, tarefas, afazeres e trabalhos do nosso dia a dia. Os exemplos do processo eleitoral e da viagem desse navegador, tão famoso, e brasileiro, seria coisa somente de artista?

Não! Claro que não. Somos brasileiros como Amyr, e eleitores, e acima de tudo, cidadãos que buscam o melhor a cada dia. Exemplos como esses mostram nossa capacidade real, que muitas vezes está acanhada e escondida por trás de justificativas desnecessárias.876369e764da3af7ad36cab8dfee4457

Cada um de nós pode se valer desses exemplos e ser um artista a cada dia nos seus compromissos e nas suas conquistas. Tal como Amyr é o capitão de seu navio, somos comandantes do nosso navio, nossa vida, navegando diariamente por momentos imprevisíveis e de grande dificuldade. E completando cada dia por inteiro e rigorosamente em tempo, mesmo que nos pareça difícil cumprir certos compromissos em certos dias tão atribulados.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em novembro de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A excelência disruptiva sendo desafiada

Amazon-building-10b3c7Em entrevista recente ao The Sunday Times, Russell Grandinetti, vice-presidente sênior de consumo internacional da Amazon, disse que seu trabalho era focar no crescimento – e é para os outros descobrirem como lidar com as ondulações que a Amazon cria no mercado, conforme artigo publicado pela Inc. Magazine.

Nas palavras dele reproduzidas na internet em uma tradução livre: “As empresas muitas vezes inventaram tecnologias que nos obrigaram a descobrir como reinvestir as melhorias de produtividade [ganhos de produtividade] em novos empregos e novas formas [de fazer as coisas]”, disse ele. “Isso é uma coisa importante a ser feita para a sociedade, uma coisa governamental importante a ser feita. Não acho que seja nosso trabalho fazer algo [ao se referir às ondulações/impactos que a Amazon cria no mercado], mas [sim] tentar sermos realmente bons no que fazemos.” Disponível em: <https://www.inc.com/business-insider/amazon-only-concerned-with-growth-not-whether-it-takes-your-job.html> Acesso em: 03 de setembro de 2018

Temos admirado a Amazon nos últimos anos, temos sido beneficiados por sua operação continuadamente disruptiva e, ao mesmo tempo, sido muitas vezes vítimas das suas investidas. Podemos discutir longamente sobre a ruptura e decadência das livrarias e depois do mercado de lojas e shoppings; e até culpar a Amazon por isso, mas o que me parece é que ela muito mais se antecipou a esse acontecimento via e-commerce do que o oposto. E no momento nos parece que o e-commerce é um caminho sem volta, que a lojas físicas permanecerão em existência, mas o modo como cada uma delas opera e atende clientes deve melhorar e terá de ser em harmonia com o e-commerce.

Em oposição a desafiar uma empresa que se tornou um símbolo de ruptura no mundo dos negócios, que tem se tornado um verbo como “amazonar” um negócio, Brian Stoffel do site “The Motley Fool” optou por extrair conhecimento das cartas aos acionistas que Jeff Bezos escreveu nestes 20 anos de companhia aberta [1997-2017]. Disponível em: <https://www.fool.com/investing/2018/08/04/20-years-of-wisdom-from-amazons-jeff-bezos.aspx> Acesso em: 03 de setembro de 2018

Excelencia-na-gestao-das-empresas-telecomunicacoes-1000x800Extrai três dessas 20 notas que acredito são bem interessantes para nossa realidade, todos em uma tradução livre.

1º – 2009: How to set goals – como definir metas. A Amazon define muitos objetivos. Quase nenhum deles tem a ver com resultados financeiros. Em vez disso, eles se concentram no que podem controlar: o processo.

  • Líderes seniores que são novos na Amazon geralmente ficam surpresos com o pouco tempo que gastamos discutindo os resultados financeiros reais ou debatendo as projeções financeiras. … Focar nossa energia nos insumos controláveis para o nosso negócio é a maneira mais eficaz de maximizar os resultados financeiros ao longo do tempo.

2º – 2011: Eliminating gatekeepers helps the world… and us (Eliminar porteiros [atravessadores ou intermediários] ajuda o mundo … e nós). Alguns acreditam que a Amazon é um monopólio que precisa ser desfeito. Mas os detratores devem reconhecer que a Amazon Web Services (AWS), o Kindle Direct e o Fulfillment by Amazon (FBA) eliminaram os intermediários e permitiram que empresas menores e autores florescessem por um preço [custo] relativamente pequeno.

  • Mesmo intermediários bem-intencionados retardam a inovação. Quando uma plataforma é self-service, até mesmo as ideias improváveis podem ser tentadas, porque não há um guardião experiente pronto para dizer “isso nunca funcionará!” E adivinhe: muitas dessas ideias improváveis funcionam e a sociedade é a beneficiária dessa diversidade.

3º – 2015: Two-way doors vs. one-way doors (Portas bidirecionais versus portas unidirecionais): Bezos percebe que a maioria das decisões é reversível. Você pode usar os conselhos dele abaixo em quase todas as facetas da sua vida.

  • Algumas decisões são consequentes e irreversíveis ou quase irreversíveis – portas unidirecionais – e essas decisões devem ser feitas de maneira metódica, cuidadosa e lenta. … Se você passar e não gostar do que vê do outro lado, não poderá voltar para onde estava antes. Podemos chamar essas decisões do tipo 1. Mas a maioria das decisões não é assim – elas são mutáveis, reversíveis – são portas de mão dupla. Se você tomou uma decisão do tipo 2 que não é ideal, não precisa viver com as consequências por tanto tempo. Você pode reabrir a porta e voltar. As decisões do tipo 2 podem e devem ser tomadas rapidamente por indivíduos com alto julgamento ou pequenos grupos.

Amazon 2019-10-28 (2)Amazon 2019-10-28 (1)De forma resumida acredito que das 20 lições extraídas por Brian Stoffel, as três listadas a seguir são muito relevantes para nossa realidade política, econômica e social:

  • Como definir metas;
  • Eliminar os intermediários;
  • Classificar nossas decisões em: portas bidirecionais versus portas unidirecionais.

E, acima de tudo, os ensinamentos encontrados nessas palavras são muito relevantes e podem nos ajudar em nosso dia a dia em quase todas as facetas de nossa vida.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em outubro de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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O dilema de uma startup

blockchain-segurança-635x399Nesses anos mais recentes e de grande crise econômica no Brasil tem se dado uma grande importância para as startups. Até parece que as startups vão resolver nosso problema econômico! Certamente que não, mas uma startup que se torne um negócio viável contribuiria em muito para a economia, caso uma vez estabelecida como negócio viável, se torne uma empresa que se desenvolva e cresça muito.

É certo, entretanto, e até um pouco romântico, ficar apenas pensando que as grandes empresas do momento um dia foram startups. Assim que uma startup se torna um negócio viável como empresa, ela precisa se desenvolver e crescer muito além do sonho inicial de resolver um problema. Um negócio somente é viável se tiver o chamado “addressable market”, expressão que para podermos traduzir, precisaremos de perspicácia linguística.

Enquanto “mercado” nos parece óbvio ser a tradução para “market”, o adjetivo “addressable” precisa ser digerido cuidadosamente. Apesar de nos parecer estranha uma tradução direta, endereçável, é a melhor tradução. Algo addressable, ou melhor, endereçável, é relacionado a/ou denotando uma unidade na qual todos os potenciais clientes ou consumidores podem ser acessados separadamente e individualmente pelo produto ou serviço oferecido.

Deixando de lado toda essa análise técnica, ainda temos a questão profunda da maioria das startups. Muitas delas não têm um mercado endereçável. Seus fundadores conceberam ótimos produtos e soluções, mas não têm mercado consumidor ou potenciais clientes, atingíveis. Não há dúvidas de que as maiores empresas do mundo nos dias atuais têm esse conceito muito bem definido e utilizado em seus negócios, basta tomarmos como exemplo a Alphabet (Google) Amazon, Apple, Facebook e Microsoft.

Temos ótimas ideias em muitas startups, mas uma grande maioria não se torna viável pois não tem mercado endereçável e acaba se tornando apenas uma pesquisa científica ou um trabalho acadêmico sem utilidade produtiva real no mundo dos negócios. Isso em oposição ao trabalho acadêmico de Frederick W. Smith, que concebeu e depois fundou a FedEx. Sua história pode ser consultada no seguinte link: https://about.van.fedex.com/our-story/history-timeline/history/

O mercado endereçável mostra a escala potencial do produto ou serviço em desenvolvimento na startup. Identificar a existência e estimar o mercado potencial são os primeiros passos para os empreendedores iniciarem seus negócios. Muitas empresas não decolam por não atentarem para esses princípios fundamentais e que evoluem constantemente.

Muitas vezes ainda o mercado já está aí e precisa apenas ser melhor servido e melhor atendido, com produtos e serviços superiores. Nas empresas que citamos anteriormente, essa situação é bem visível, cada uma delas venceu a ponto de chegar até a eliminar a concorrência.

Um grande exemplo de discernimento para o mercado endereçável, e mais ainda, para transformar as ameaças em oportunidades, é a criação do iPhone. Alguns trechos do capítulo 35 do livro “Steve Jobs”, ilustram bem essa ideia. Do livro: “Em 2005, as vendas do iPod dispararam. O produto se tornava mais importante para o faturamento da empresa, respondendo por 45% das receitas daquele ano”. Era isso que preocupava Jobs. “Ele estava sempre obcecado pelo que poderia nos afetar”, lembrou o membro do conselho Art Levinson. A conclusão a que ele [Jobs] chegou foi: “O aparelho que pode nos detonar é o celular” [como expôs Jobs ao Conselho, da Apple, à época].luz-e-escuridao-370x200

Neste caso clássico o mercado endereçável do celular já estava claramente identificado, e o que ele percebeu foi que o celular poderia evoluir e detonar o iPod. Além disso, o mercado de celulares era claramente maior no início que o de iPods. Então nada melhor do que partir para o ataque a um mercado já identificado e ávido por algo melhor e mais completo, incluindo música, internet e, porque não, telefone! Como dizem, daí para frente todos já conhecem a história.

A conclusão que chegamos é que, além de desenvolver um produto ou serviço de excelente qualidade, um passo ainda mais crítico para qualquer startup é identificar o mercado endereçável para esse produto ou serviço.

Sem saber o mercado potencial [endereçável], uma startup pode estar prospectando um mercado tão pequeno e até inatingível que será impossível gerar receita e resultado com tal empreendimento.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em agosto de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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Mais do mesmo: carga tributária, burocracia e gestão madura

Há 10 anos, alguns jornais estampavam na capa o título “Carga tributária e burocracia emperram desenvolvimento” ou apenas “Gestão madura”. Já conhecemos essa discussão há décadas e ainda hoje continuamos a vê-la nos jornais e revistas.Circulo vicioso 1

Além do debate sobre a carga tributária e a burocracia vemos, mais acalorado nos dias atuais, a discussão sobre as contas do governo central e dos governos regionais, estaduais e municipais. Muitos deles estão no chamado “vermelho”. A arrecadação não sustenta os pagamentos.

As causas são variadas e podem ser vistas de vários ângulos, além de serem debatidas exaustivamente. Muito se fala sobre o que deveria ter sido feito ou sobre o que não foi feito, mas fazer algo, seja no passado é impossível ou agora que a situação das contas públicas se agravou, demanda atos de gestão.

Vamos lembrar que estamos em um ponto de virada de melhoria das condições econômicas, e mesmo assim, não vemos somente as contas públicas no vermelho. Há muitas empresas privadas também na mesma situação.

Crises acontecem e não temos controle de tudo, tanto na nossa vida pessoal ou na vida da empresa em que atuamos. Entretanto, aqueles que têm o papel, a função de gestão – seja pública ou privada, atuam com a responsabilidade da gestão das circunstâncias atuais sob seu comando com foco no futuro.

Estamos prestes a ter uma retomada econômica. Seja ela rápida ou lenta, vai acontecer gradualmente e de forma diferente para cada um de nós. E aí está a nossa oportunidade de gestão do momento atual com vistas no futuro que se vislumbra.

Ainda hoje criticamos a carga tributária e a burocracia. Será que vamos continuar por mais dez anos, criticando? Não importa. Com carga tributária alta e burocracia, ou não, o que devemos buscar é a gestão madura dos negócios.Circulo vicioso 2.png

“Bem estruturadas e mais competitivas, as empresas com boa gestão alcançam muito mais do que simplesmente aumento da receita, alcançam também crescimento sustentável e consolidação dos negócios”. Essa é uma constatação aparentemente óbvia e muito negligenciada, seja há 10 anos ou nos dias de hoje. Enquanto uma matéria jornalística mostrava a questão da carga tributária e da burocracia da época, algo externo ao controle da maioria da classe empresarial, a outra reportagem realçava a importância da gestão madura dos negócios, integralmente sob controle de cada um de nós, empresários ou dirigentes empresariais.

Não há fórmula mágica em nenhum momento, mas, sim, uma oportunidade de focar naquilo que se consegue atuar a despeito das circunstâncias externas. Estamos falando de priorizar a gestão madura e efetiva, e buscar os resultados esperados nas circunstâncias postas. Não devemos preparar nossos planos com esperanças vazias de que um milagre vai acontecer e que, tanto a carga tributária quanto a burocracia, serão reduzidas rapidamente.

Não faltam exemplos no mercado de que a gestão madura (e vou além: ética) e efetiva, preservam os negócios a longo prazo. Basta vermos os diversos “rankings” que temos como exemplo. Não precisamos olhar apenas para nossos indicadores nacionais de empresas, podemos ver os indicadores internacionais e verificamos os mesmos efeitos.

As reportagens a que me refiro neste artigo são datadas de 1º de maio de 2008. Todos nós lembramos daquele ano pelos acontecimentos no segundo semestre. A crise financeira de 2008 foi identificada como a maior da história do capitalismo desde a grande depressão de 1929. O evento detonador da crise foi a falência do banco de investimento Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008 após a recusa do Federal Reserve (FED, o banco central americano) em socorrer a instituição. Desde então, os EUA já se recuperaram dessa crise, e em 10 anos, já estão a todo vapor.Circulo vicioso 3.png

Comparativamente, o Brasil não se recuperou ainda nessas mesmas proporções. Das principais empresas componentes do mercado há dez anos, algumas mais relevantes tiveram uma década de má-gestão de toda forma, causando resultados negativos devastadores. Outras ainda tiveram algum encolhimento pelas razões mais diversas. A maiorias delas que não foi bem nesses últimos anos, teve desempenho ruim por razões completamente diversas a alta carga tributária e a burocracia.

Não foram esses dois fatores [carga tributária e burocracia] que prejudicaram essas empresas, até porque se sabe que aquela foi uma crise econômica sem precedentes. Por outro lado, certamente, foi uma gestão madura que propiciou à algumas empresas nesse período, não só sobreviver, mas se superar com resultados louváveis.

E daqui a 10 anos lendo as mesmas notícias dos temas fora do nosso controle, como será?

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em maio de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

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A real globalização do mundo está nas pessoas

Globalizacao 1 debris-1974368_1920-copy-1170x508Já há décadas ouvimos, vemos e observamos a chamada globalização. Aparentemente, se evoluiu da internacionalização das corporações para as multinacionais e agora, mais recentemente, temos as chamadas companhias globais. Difícil é ficar dando definições e esclarecimentos para cada um desses carimbos que nós mesmos criamos, mas agora é certo que uma companhia global é muito mais que uma apenas internacional ou multinacional.

Talvez de uma forma simples e direta podemos notar que uma empresa internacional é aquela que vende seus produtos e, eventualmente, compra seus suprimentos internacionalmente para e de mercados além do seu país de origem. Já a empresa multinacional vai um passo além, tem bases estabelecidas em vários locais de outras nacionalidades e como o próprio título expressa, são multinacionais, multinacionalidades.

Por fim, a empresa global, não somente compra e vende ou opera em alguns países além do seu próprio país de origem. Uma empresa global tem sua natureza global prioritariamente pelo destino de seus produtos e serviços e independe da origem de seus suprimentos. Sua natureza global está naqueles que se suprem dessa empresa, de forma local, em todos os locais do mundo. Não preciso citar aqui alguns nomes, pois sei que cada um de nós já percebe e se lembra de vários nomes com essa natureza.

Globalizacao 2 geo-2Os editores Jase Ramsey e André Almeida no livro “The Rise of Brazilian Multinationals”, por meio dos colaboradores do livro, discutem longamente em um dos capítulos a importância cultural na internacionalização de uma empresa. Eles trazem a luz da discussão as teorias sobre esse tema e a interação da cultura com a gestão de uma empresa, seja ela internacional, multinacional ou global. O que vemos já há anos e mais recentemente com a real globalização mundial sustentada pela internet, é que uma empresa global precisa ter pessoas de todas as naturezas, locais, globais, e acima de tudo globalizadas.

São as pessoas que realmente serão capazes de propiciar a uma empresa as condições de serem globais. Os consumidores também serão dessas três naturezas. Teremos os consumidores locais que sequer querem saber a origem da empresa, o que lhes interessa é o produto de boa qualidade, bom preço, e que funcione bem. Já as pessoas globais estão mais alertas para a natureza do produto e pela possibilidade do seu uso e benefício além das fronteiras, pois os consumidores globais consomem localmente e usam globalmente.

Agora os consumidores globalizados, esses são os mais desafiadores e realmente testam a capacidade de uma empresa ser ou não global (e não meramente ser internacional ou multinacional). Esses consumidores globalizados são capazes de consumir (seja produto ou serviço) de forma global, conhecem diversas fontes, vários provedores do mesmo produto ou serviço e são capazes de comparar, testar, e então comprar globalmente. Uma empresa realmente global terá clientes e consumidores com essas características.

Globalzacao 3 conjuncoes_em_inglesEsse fenômeno já tem nome: “Third Culture Kids” ou TCK, cunhado por alguns doutores no assunto. Esses doutores, ao pesquisarem sobre as características dos filhos de militares, diplomatas, acadêmicos, profissionais da indústria privada e outros profissionais, que criam seus filhos em outras culturas, adotaram essa expressão.

Essa terceira cultura não é simplesmente uma junção de culturas a que essa pessoa foi exposta, mas como expõe a autora Lois Bushong, “é um estilo de vida distinto, compartilhado por pessoas que vivem entre culturas, pessoas que se alternam com facilidade entre sociedades e línguas, e tem sua identidade cultural forjada (modelada) nisso.

Companhias globais já têm em seu bojo profissionais com essas caraterísticas e, por isso, têm se tornado globais no fornecimento de produtos e serviços de forma a competir localmente com toda e qualquer empresa local, colocando em risco a tão vangloriada cultura local como alicerce para a sustentação de um negócio.

São os adultos jovens, os adolescentes e as crianças, como consumidores com essa terceira cultura que darão e já estão dando a sustentação dos negócios locais, que tem se modernizado e adotado modelos de negócios transculturais de produtos e serviços e, acima de tudo, de gestão.

 

Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em março de 2018 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.

 

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