Nos parece que temos mais um ano de pista sem decolagem. Um ano que começou com grande expectativa, talvez sem respaldo, e agora as previsões de retomada e crescimento da economia não se confirmam. E passamos a aguardar pelos grandes acontecimentos como se tais fossem resolver todos os problemas do país num passe de mágica.
O Brasil não é uma ilha isolada do mundo. Atualmente, com um mundo globalizado, podemos ter acesso a tudo, de toda parte. E, acima de tudo, podemos ir a toda parte, sejamos nós mesmos, nossos produtos, nossos serviços e nossas pessoas.
Não faltam iniciativas privadas e públicas para propiciar aos empreendedores brasileiros oportunidades além-fronteiras. As câmaras de comércio da grande maioria dos países desenvolvidos estão presentes no Brasil. Elas, entre outras, são um ótimo canal de comunicação tanto para trazermos negócios para o Brasil como para prospectarmos negócios no exterior.
Então, se pretendemos expandir nossos negócios internacionalmente, seja trazendo negócios do exterior para representarmos no Brasil ou indo para o exterior, precisamos estar preparados. Ter ótimos produtos e serviços locais, de sucesso em nosso ambiente e cultura, não será suficiente. Precisaremos de produtos e serviços internacionalizados e, além disso, e acima de tudo, precisaremos de muita diplomacia.
Um grande exemplo de 30 anos atrás de diplomacia pode ser visto no livro histórico de Jack Welch, sobre sua [e da GE] história na liderança da GE. No início dos anos 90, Welch estava promovendo fortemente o crescimento global da GE, em adição ao crescimento que já havia obtido nos EUA. No capítulo sobre globalização, ele conta sua viagem para Índia. A seguir algumas passagens para ilustrar nossa reflexão:
“Outro evento global memorável daquele ano foi minha viagem à Índia no final de setembro de 1989. Paolo me arrastou para lá pela primeira vez, e eu instantaneamente me apaixonei pelo povo. Paolo construiu um ótimo relacionamento com K.P. Singh, … K.P. foi um verdadeiro embaixador para a Índia. … Os esforços de K.P. e seus amigos trabalharam. Eles nos mostraram uma Índia e um povo que nós amamos. Nós vimos todos os tipos de oportunidades lá. Depois dessa viagem, tornei-me o campeão da Índia. … Os indianos eram altamente educados, falavam inglês e o país tinha muitos empreendedores tentando romper as amarras da pesada burocracia governamental.”
Essa parte do capítulo é extraordinária pois nos conta as nuances de uma habilidade diplomática de recepção dos indianos que cativou profundamente o principal executivo da GE. E Welch também nos conta as consequências, algumas muitas frustrantes, das iniciativas que se seguiram.
O que vemos de mais profundo e impactante nesse primeiro contato é a recepção extraordinária que deram ao visitante, cativando-o desde o primeiro momento. E dentre as percepções iniciais de Jack, o que vemos é ele notar: “… eles falavam inglês …”. Como encantar alguém com uma recepção extraordinária se não somos capazes de falar, de nos comunicarmos com essa pessoa?!
Enquanto o Brasil não decola, localmente, podemos expandir nossos negócios internacionalmente. Seja do Brasil para fora, seja de fora para o Brasil. No livro Negócio Fechado, de Suzana Doblinski Johr, ela também fala sobre a importância de se preparar para negócios internacionais. Ela ressalta que o executivo internacional é o de um profissional que consegue deixar seus hóspedes à vontade, conhece e respeita o protocolo, observa os costumes, é criativo e empreendedor, fala vários idiomas e tem uma visão global.
Suzana também ressalta que fazer negócios é algo muito mais amplo do que simplesmente negociar. Fazer negócios é socializar e implica amizade, etiqueta, paciência, protocolo e uma longa lista de detalhes culturais. Tão importante quanto o conhecimento do idioma internacional principal, o inglês, é o conhecimento da forma como cada cultura pensa e age.
Enquanto o Brasil não decola, sozinho, preso a mitos de soluções milagrosas e ações de governo, podemos buscar nos negócios internacionais multilaterais, oportunidades de expansão nos nossos próprios negócios.
Texto revisto e atualizado, da versão originalmente publicada em junho de 2019 no blog do autor na ACIC. Jarib B D Fogaça é sócio na JFogaça Assessoria, Diretor Adjunto na ACIC, e conselheiro independente.